Questões sobre a transferência na clínica de crianças com gagueira
Maria Inês Tassinari |
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Resumo A gagueira está fragilmente sustentada como patologia nos cânones da medicina clássica, uma vez que lhe falta um dos pilares desse sistema de significação e tratamento que é a etiologia orgânica. Configurou-se, portanto, em torno desse sintoma, um campo de dúvidas e certezas com desdobramentos diversos e divergentes no modo de tratá-lo. Os efeitos da transmissão não se reduzem a produção inequívoca de um simulacro dos desejos inconscientes dos pais, haja vista que a criança se posiciona frente a determinados imperativos especulares. Consideramos que, embora a criança esteja sendo significada numa trama discursiva que a determina pela anterioridade lógica da linguagem na supremacia do significante, ela se move de forma singular nessa rede, em nuances performáticas sem precedentes. Por quais aspectos transferenciais é que o terapeuta pode sustentar com o paciente um novo jeito de dizer (de se dizer)? Talvez a posição ocupada por aquele que está como suposto saber sobre a fala autorize a criança a falar, o que diminui ou divide o poder dado aos pais, ou, mais particularmente, à mãe, que vai ou não permitir que a entrada de um terceiro seja de fato significativa e lance o discurso da criança para outras demandas que não só para as dela em relação ao filho idealizado. Tais hipóteses serão explanadas a partir do caso de Bernardo, de seis anos, mediante o qual poderemos ver que a gagueira está imbricada na lógica das operações de subjetivação, marcadamente vividas no contexto da conflitiva edípica. Nesse caso vemos com clareza como o sintoma na fala pode estar associados ao modo como os traços identificatórios são produzidos pela referência simbólica ao pai. 1. A criança na clínica psicanalítica. Rio de janeiro: Companhia de Freud, 2004 Palavras-chave: constituição psíquica, intervenção precoce, bebês, educação, psicanálise. |