31 de agosto e 1 de setembro de 2012
sedes
Trabalhos

Clínica Psicanalítica com bebês institucionalizados: A facilitação para a promoção da saúde mental

Renata Rocha
Aluna do Curso de Psicologia do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Brasil.

Dra. Denise Sanchez Careta
Doutora em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da USP. Brasil. Coordenadora do Núcleo de Abrigos – LAPECRI-USP.

Profa. Dra. Ivonise Fernandes da Motta
Professora da Graduação e Pós-Graduação de Psicologia do Instituto de Psicologia da USP. Brasil. Coordenadora do LAPECR-USP.

Resumo

O conceito de saúde, à luz dos pensamentos de D. W. Winnicott (1896-1971, pediatra e psicanalista inglês), está intrinsecamente associado à possibilidade de viver os estágios de desenvolvimento emocional plenamente. Para que isso aconteça, é fundamental que um ambiente favorável circundante sustente o desenvolvimento do potencial herdado, que é inato.  O potencial herdado está ligado à tendência no sentido do crescimento e do desenvolvimento (Winnicott, 1960/1990).
A base da teoria de Winnicott privilegia a mais tenra infância, pois para o autor é neste período que se inicia o desenvolvimento do ego, com a integração deste como principal aspecto, se tudo correr bem. O autor ressalta que é mais comum do que se imagina ocorrer uma cisão da personalidade a partir da interação com ambientes insatisfatórios, Winnicott (1950/2002):
Na forma mais simples de cisão, a criança apresenta uma vitrine, ou uma metade voltada            para fora, construída com base em submissão e complacência, ao passo que a parte principal do eu, contendo toda espontaneidade, é mantida em segredo e permanentemente envolvida em relações ocultas com objetos de fantasias idealizados. (p. 199).

É relevante destacar a importância do cuidado materno que propicie o ambiente sustentador neste período, já que este é imprescindível para a saúde. De acordo com Winnicott (1960/1990), “o bebê e o cuidado materno juntos formam uma unidade” (p. 40). O autor refere-se aos primórdios do desenvolvimento em que o bebê apoia-se ao ego da mãe e vive a onipotência para gradativamente, a partir de continuidades desse cuidado e falhas maternas suportáveis, resultar em um “estado unitário”, uma pessoa com individualidade própria caso não ocorram intrusões ambientais prejudicando a continuidade do crescimento emocional.
A pessoa capaz de prover o cuidado materno satisfatório que auxiliará o desenvolvimento saudável do bebê é a chamada mãe suficientemente boa para Winnicott garantindo através de identificações com seu bebê o holding, ou seja, a provisão ambiental total. O conceito de holding inclui a rotina completa do cuidado, seguindo as mudanças instantâneas do dia-a-dia. Tal cuidado não é o mesmo para diferentes crianças (Winnicott, 1960/1990). Ou seja, um ambiente humano que se adapte às necessidades do bebê.
A fase de holding vai facilitar que o bebê caminhe em seu desenvolvimento partindo da dependência absoluta, em que o bebê não percebe o cuidado materno (o bebê ainda não é uma unidade, portanto está fundido à mãe), não podendo assumir controle do que é bem ou mal feito, logo, estando em posição de apenas se beneficiar ou sofrer as ações ambientais. Para assim, através de experiências favoráveis do cuidado materno, rumar à independência: tendo alcançado a condição de uma unidade, em que desenvolve meios para ir vivendo através do acúmulo de recordações do cuidado recebido (Winnicott, 1960/1990). 
Winnicott (1950/2002) ressalta que a criança vitima de privação de um ambiente favorável no início de vida está doente: “isto porque a ação ambiental saudável favorece o desenvolvimento das potencialidades para a saúde do indivíduo” (Careta, 2011, p.24). O presente estudo visa frisar a importância de um ambiente humano favorável em instituições para o acolhimento de bebês, para que assim o desenvolvimento destas crianças possa ocorrer de forma plena, rumando à saúde mental. Para ilustrar a necessidade apontada, apresentamos um recorte de um caso clínico sobre um bebê institucionalizado.
O ambiente de holding fez-se imprescindível no ambiente psicoterápico, apontando para necessidade de manejo de setting. É importante ressaltar que os atendimentos aconteceram na instituição. Trata-se de nos adequar à realidade do contexto. Dessa forma o manejo de setting estabelece-se atrelado aos enquadres diferenciados (Careta, 2011)*.


* Segundo Careta (2011), “enquadres diferenciados podem sercompreendidos como settings alternativos, nos quais o método psicanalítico pode ser concretizado com rigor. Ver: Aiello-Vaisberg (2004), Ser e Fazer. Enquadres diferenciados na clínica winnicottiana.”