31 de agosto e 1 de setembro de 2012
sedes
Trabalhos

Recordar, desenhar, esquecer: deslocamentos e recusa em um caso de abuso sexual infantil.

Renata Udler Cromberg
Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, doutora pelo Instituto de Psicologia da USP, professora convidada nos Curso de Teoria Psicanalítica do COGEAE – PUC e do Curso de Psicopatologia e Saúde Mental da Faculdade de Saúde da USP, autora dos livros Paranóia e Cena Incestuosa da coleção Clínica Psicanalítica da Ed. Casa do Psicólogo.

Eugênio Canesin Dal Molin
Psicanalista, mestrando no IPUSP com bolsa FAPESP; é especialista em Teoria Psicanalítica pelo COGEAE/PUC-SP e aluno do curso Psicanálise, no SEDES. Durante vários anos trabalhou no Programa Sentinela, atendendo crianças vítimas de abuso sexual e outras formas de violência.

Isabella Silva Borghesi
Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica: Teoria Psicanalítica pelo COGEAE/PUC-SP, em Transtornos da Infância e Adolescência pela UNIFEV/Centro Lydia Coriat, e em Gestão Pública pelo INSEP/PR. Aluna do curso Psicanálise no SEDES e Coordenadora do Serviço de Psicologia da Clínica de Fisiatria e Reabilitação de Londrina.

Resumo

Com base em desenhos feitos durante a análise por uma criança vítima de abuso sexual, o presente texto procura explicitar e discutir o trabalho psíquico defensivo realizado pela paciente. Tal trabalho defensivo, observável nos desenhos, implicou na recusa de uma percepção – a do órgão sexual masculino – que, embora pudesse ser representada no início do tratamento, paulatinamente esvaneceu-se. No lugar da percepção e de sua correspondente representação, os desenhos mostram que a ênfase no genital masculino encontra uma representação substituta desde o primeiro relato que a criança faz da experiência de sedução. E, através da observação dos desenhos da paciente e do que ela fala sobre eles, é possível visualizar como a representação substituta ganha mais elementos ao mesmo tempo em que nega a percepção original. Toda vez, porém, que a paciente aproxima-se da representação ligada à percepção recusada, um novo movimento defensivo faz-se necessário, e mais investida torna-se a representação substituta. Um complicador também depreendido dos desenhos e do que diz a criança sobre o episódio da sedução é o fato de que, durante o abuso, a paciente, então com quatro anos, é confrontada, aparentemente pela primeira vez, com a diferença anatômica entre os sexos, mas não só com isto. Sua experiência envolve também as constatações da diferença anatômica entre o órgão genital do homem adulto excitado e o da criança, e da diferença no objetivo sexual do adulto e da criança. O ambiente confiável e acolhedor oferecido por sua família após o abuso, e a transferência imediata feita com o analista, favoreceram o relato da experiência de sedução, sua reprodução nos desenhos, e o trabalho psíquico que a criança realizou sobre o episódio abusivo. Tais elementos ressaltam a importância de estudos que se aprofundem na tentativa de compreender como o psiquismo infantil reage a esse tipo de experiência, que tem ganhado cada vez mais repercussão na sociedade.


Palavras-chave: abuso sexual; recusa; percepção-representação.