Recordar, desenhar, esquecer: deslocamentos e recusa em um caso de abuso sexual infantil.
Renata Udler Cromberg Eugênio Canesin Dal Molin Isabella Silva Borghesi |
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Resumo Com base em desenhos feitos durante a análise por uma criança vítima de abuso sexual, o presente texto procura explicitar e discutir o trabalho psíquico defensivo realizado pela paciente. Tal trabalho defensivo, observável nos desenhos, implicou na recusa de uma percepção – a do órgão sexual masculino – que, embora pudesse ser representada no início do tratamento, paulatinamente esvaneceu-se. No lugar da percepção e de sua correspondente representação, os desenhos mostram que a ênfase no genital masculino encontra uma representação substituta desde o primeiro relato que a criança faz da experiência de sedução. E, através da observação dos desenhos da paciente e do que ela fala sobre eles, é possível visualizar como a representação substituta ganha mais elementos ao mesmo tempo em que nega a percepção original. Toda vez, porém, que a paciente aproxima-se da representação ligada à percepção recusada, um novo movimento defensivo faz-se necessário, e mais investida torna-se a representação substituta. Um complicador também depreendido dos desenhos e do que diz a criança sobre o episódio da sedução é o fato de que, durante o abuso, a paciente, então com quatro anos, é confrontada, aparentemente pela primeira vez, com a diferença anatômica entre os sexos, mas não só com isto. Sua experiência envolve também as constatações da diferença anatômica entre o órgão genital do homem adulto excitado e o da criança, e da diferença no objetivo sexual do adulto e da criança. O ambiente confiável e acolhedor oferecido por sua família após o abuso, e a transferência imediata feita com o analista, favoreceram o relato da experiência de sedução, sua reprodução nos desenhos, e o trabalho psíquico que a criança realizou sobre o episódio abusivo. Tais elementos ressaltam a importância de estudos que se aprofundem na tentativa de compreender como o psiquismo infantil reage a esse tipo de experiência, que tem ganhado cada vez mais repercussão na sociedade. Palavras-chave: abuso sexual; recusa; percepção-representação. |