Resumo

Este trabalho, que se inscreve no eixo temático Constituição do psiquismo, versa sobre o papel do manejo da transferência na delimitação do enlaçamento com o outro e do corpo no atendimento psicanalítico de uma criança autista. Serão utilizadas vinhetas clínicas a fim de ilustrar as dificuldades da paciente no seu início e as intervenções que foram realizadas até que fosse alcançada uma organização estável do seu modo de estar com o analista, tendo diminuído significativamente estereotipias, agitação motora e masturbação, que deram lugar ao surgimento de referências a estados de espírito, brincadeiras e desenhos. Inicialmente colada na ação motora do analista, a paciente passou a desenhar de forma condensada até o surgimento de letras e números. Junto com a delimitação e separação dos desenhos, das letras e dos números, surgiu a leitura, atualmente corrente e sem dificuldades. Terão destaque considerações sobre a importância da montagem de uma rede coordenada envolvendo psicanalista, fonoaudióloga, escola e psiquiatra, bem como comentários acerca dos princípios norteadores do trabalho com os pais. Por fim, será evidenciada a direção empreendida no trabalho à luz da noção freudiana de séries complementares enunciada, dentre outros escritos, na nota de rodapé do primeiro parágrafo do texto A Dinâmica da Transferência (1912).