Triste velhice
por Rubia Delorenzo[1]
Para os velhos que, já sem palavras, morreram antes de morrer.
Os opacos olhos claros se abrem. Nada veem.
O sono foi curto e vazio.
Não há mais sonho. Nem saudade.
Não há mais como inventar o dia.
Quando, quando, quando?
Um minuto, uma hora? Meses, quantos?
Em que tempo finito tudo se acaba?
Foi-se a linguagem pura e castiça.
Sobraram apenas sílabas maciças.
Duras, reumáticas, artríticas.
Desponta, visível, a borda fronteiriça.
Bem próxima, a face extrema dos confins.
Desmancha-se sem despedidas.
Ocaso.
Já não é.
Janeiro – 2022
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[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, colaboradora deste boletim online.