Boas-vindas a Leonardo Washington, Adriana Omatti, Mayra Laurino e Lígia Martin, agora membros do Departamento
pela Comissão de Admissão[1]
Sobre a apresentação pública de Leonardo Tunoda Washington
por Nanci de Oliveira Lima[2]
Em 05 de maio de 2023 recebemos para a apresentação pública, enquanto primeira ação como membro do Departamento, Leonardo Tunoda. Em um clima amistoso, rodeado de amigos, ele apresentou seu caso clínico, no qual se debate com as questões do pagamento numa análise. O assunto mobilizou os presentes, resultando em uma boa conversa sobre o caso e o tema.
Filho do meio, com ares e responsabilidades de filho mais velho, Leonardo apaixonou-se aos 14 anos pelo piano e, aos 16, desejava ser pianista. Num revés, porém, viu-se trocando a formação em piano erudito para teologia, pois à época, havia se convertido ao Evangelho e buscava construir uma vocação religiosa.
Esse caminho, entretanto, mostrou-se permanentemente gerador de conflito, especialmente quando contraposto às questões do inconsciente, da sexualidade, e da falácia de um sentido único e totalitário para a experiência tão complexa que é a vida. Tal contradição foi ampliada quando ele se deparou com textos freudianos, como “Três ensaios”, “O futuro de uma ilusão” e “O mal-estar na civilização”.
Após muito se debater – tendo sido, inclusive, pastor pela Igreja Batista por algum tempo – os anos de análise o ajudaram a, em suas palavras, “dissipar o conflito”, fazendo com que Leonardo deixasse de ser pastor e se voltasse para sua formação como psicanalista.
Iniciou seu processo em sua análise pessoal, na qual seu desejo de analista começou a ser esboçado. Em seguida, fez um percurso no CEP, onde conheceu Sérgio Gouvêa Franco, com quem desenvolveu forte transferência, tomando-o como seu supervisor e essa transferência também o aproximou do Departamento de Psicanálise.
Paralelo à formação no CEP, Leonardo fez a especialização em Teoria Psicanalítica na PUC-SP, tendo encontrado – além do aprofundamento teórico que tinha buscado – fortes referências nos professores, o que aumentou seu desejo pela clínica.
A disciplina “Teoria da sexualidade”, ministrada por Julieta Jerusalinsky, o marcou profundamente, tendo efeitos também analíticos, na medida em que questionava “verdades” há muito aprendidas. Desse interesse surgiram a escrita da monografia na conclusão desta especialização, orientada por Pedro de Santi, seguida do Mestrado em Clínica e Pesquisa em Psicanálise, na UERJ, orientado por Marco Antônio Coutinho Jorge, no qual sua dissertação recebeu o título de “O embate de Freud com a psiquiatria do século XIX sobre a teoria da sexualidade”.
Entre a especialização na PUC e o Mestrado na UERJ, Leonardo fez o curso de Psicanálise, em nosso Departamento, ao reconhecer que sua entrada no CEP havia sido prematura e que necessitava de um percurso mais longo – de estudos teórico-clínicos e análise pessoal – para sustentar sua escuta.
Leonardo ressalta que os quatro anos do curso, com seus seminários, supervisões grupais e individuais, permeados por sua análise pessoal, foram cruciais na composição de todo seu processo de vir a se tornar psicanalista. Ele seguiu em forte transferência com vários professores e supervisores, reforçando seus laços com o Departamento, tornando-se aspirante a membro em março de 2017.
Curioso, aberto e disponível para conhecer diferentes caminhos, permeou sua formação com passagens por variados espaços, nos quais buscava oportunidades para aprofundar seu conhecimento e experiência clínica, entre eles: grupos de estudo e de supervisão com Sérgio G. Franco, participação no Ambulatório de Transtorno de Personalidade e do Impulso no IPQ, da USP, e o percurso de terapeuta aprimorando na Clínica do Sedes.
Nestes espaços teve aproximação com diversos autores pós-freudianos, entre eles: Bollas, Klein, Winnicott, Bion, Kemberg e Lacan.
Seu atendimento em consultório seguiu (e segue) paralelo a todo este percurso e, em 2020, Leonardo passou a compor o grupo do GTEP, na condição de aspirante a membro.
Em suas pesquisas, Leonardo estudou Thomas Kuhn, que coloca que as principais descobertas científicas estariam mais ligadas com as crises e consequentes substituições de paradigmas do que com o processo de acumulação de conhecimento, levando-o a estender este pensamento para sua pergunta sobre as relações entre a teoria da sexualidade freudiana e a psiquiatria do século XIX.
Parece-nos interessante que Leonardo tenha concluído que a teoria da sexualidade em Freud se apresenta como uma ruptura epistemológica no campo; especialmente quando nos conta, em seu memorial, que para fazer a passagem da teologia para psicanálise ele também teve que viver crises e romper paradigmas.
Bem vindo, Leonardo.
Sobre a apresentação pública de Adriana Omatti
por Roberta Kehdy[3]
Em 12 de maio, com a presença de vários colegas, aconteceu num clima muito amistoso a apresentação pública de Adriana Omatti, que é sua primeira participação, já como membro do nosso departamento. Adriana conta, em seu memorial, sua trajetória marcada pelo mantra que adotou na vida: é possível viver diferente. Nascida e criada em um cultura social tradicional e muito conservadora em costumes e valores, encontrou refúgio na escola e no convívio com a pluralidade das famílias dos amigos. Da tradição familiar, herdou o pensar muito e o interesse pela literatura.
Tem um percurso interessante: atuou como acompanhante terapêutica, fez a especialização em Psicopatologia e Saúde Pública na Faculdade de Saúde Pública da USP, mestrado sob orientação de Manoel Berlinck, trabalhou por alguns anos no Centro Terapêutico Máximo Ravenna, que confirmou seu desejo de atuar para além dos espaços de análise com pacientes individuais.
Em sua formação no Departamento de Psicanálise do Sedes, iniciada em 2016, encontrou o que procurava: o estudo de Freud organizado e mais sistemático com professores de diferentes aprofundamentos teóricos generosos em suas exposições e um grupo de colegas, hoje irmãos de jornada psicanalítica, que propiciaram uma rica troca de experiências. Enfatiza que seu interesse pela psicanálise sempre partiu da priorização da clínica.
Acompanhamos sua escuta delicada de uma paciente que buscava sozinha a cura de um sofrimento atroz – a sensação de vazio. A mitigação da dor inicialmente passava pelo consumo do que a paciente chama de “coisas-balão”, ou seja, objetos e ações que ocupam espaço, ainda que ocos.
Adriana nos proporcionou uma interessante conversa sobre o manejo e a transferência: como não cair em uma idealização do lugar de analista enquanto figura abstêmia e neutra, assim como não passar a ocupar um espaço de análise-balão. Sua posição transferencial possibilitou que, juntas, pudessem percorrer e remontar as difíceis perdas das figuras de cuidado e afeto na vida da paciente.
Adriana, seja muito bem vinda.
Sobre a apresentação pública de Mayra de Castro Laurino
por Elcio Gonçalves[4]
Foi num clima amistoso, e com a participação de um número significativo de colegas de diferentes gerações do Departamento, que tivemos o prazer de acompanhar, no dia 19 de maio de 2023, a apresentação pública da colega Mayra de Castro Laurino – que, após um implicado percurso de trabalho e pesquisa no campo psicanalítico, por diferentes áreas desse Instituto e fora dele, a ele retornou, e dessa vez para apresentar-se como membro, através de um recorte singular de sua clínica.
Mayra tem um percurso peculiar pela clínica psicanalítica, através da qual descobriu cedo, e no seio da própria família, a importância fundamental da presença e sustentação afetiva dos entes, para a manutenção dos laços e da saúde psíquica, a partir de uma estreita e marcante relação com a avó materna.
Inspirada pelos pais, profissionais da área da saúde, na primeira infância imaginou-se médica, especificamente para “trazer bebês ao mundo”; tendo em seguida, e anos mais tarde, transformado a fantasia e se encaminhado para uma graduação em ciências sociais, seguida de uma aproximação e rápida passagem pelo cinema, enquanto campo de interesse.
Concluída a graduação frequentou um curso de Acompanhante Terapêutico no Instituto A CASA onde iniciou sua formação no campo clínico psicanalítico, tornando-se professora convidada a seguir, e onde contribuiu com a formação de algumas turmas de AT ’s por uma década.
No Instituto Sedes trabalhou no CNRVV (Centro de Referência às Vítimas de Violência) como orientadora socioeducativa; frequentou os cursos Conflito e Sintoma e o curso de formação deste Departamento, realizando seu estágio na clínica social do Instituto por três anos; tornando-se aspirante a membro, participando de diferentes grupos de pesquisa e trabalho no Departamento, bem como coordenando cursos de expansão no Instituto.
Num ímpeto pessoal e profissional passou dois meses em Bonneuil (sur Marne) na França vivendo na pele a posição de estrangeiro – segundo ela “uma experiência que beirava a experiência analítica, na qual o sujeito é retirado da condição de saber e da linha de conforto, necessitando encontrar novos lugares e posições, interrogando-se sobre a sua origem e sua relação com o próprio desamparo frente ao desconhecido”.
No retorno ao Brasil teve uma nova inserção na temática e no campo do estrangeiro, estagiando na Casa do Migrante – Projeto Veredas, numa experiência que lhe possibilitou inverter as posições: de analista estrangeira na França à “analista que atendia os estrangeiros” no Brasil.
Num percurso teórico clínico implicado, de pesquisa e formação, entre autores como: Freud, Lacan, Ferenczi, Balint e Kohut, Mayra enveredou pela escrita de alguns trabalhos, dentre os quais destaco “Fado e Melancolia: uma intersecção possível para a travessia poética do luto”, com foco nos estudos sobre transmissões psíquicas inconscientes e transgeracionais, um de seus temas de interesse ainda hoje.
Do mistério infantil em sua primeira análise aos onze anos sobre: “para onde vão os adultos, quando mesmo estando ao nosso lado parecem distantes, enredados e encarcerados no seu próprio mundo interno”, à jovem analista, instigada pela ética da psicanálise e implicada com a experiência da clínica individual, grupal e a do Acompanhamento Terapêutico, a colega, e nova membro, apresentou com suavidade, implicação e bom humor um recorte de seu trabalho, através do caso clínico: “De fantoche a ator, um caso de telescopagem”.
Que a coautoria, em boa companhia, siga produzindo, transformando e ampliando universos e singularidades ao redor.
Seja bem-vinda!
Sobre a apresentação pública de Lígia Pezatti Martin
por Gisele Senne de Moraes[5]
Nossa colega Lígia Pezatti Martin esteve conosco no Instituto Sedes Sapientiae na sexta-feira, 02 de junho de 2023, para a apresentação pública de seu caso clínico, ato inaugural como membro do Departamento de Psicanálise.
O caso apresentado, uma garota pré-adolescente/adolescente, trouxe as dificuldades e alegrias dos atendimentos juvenis: de questões em torno da vida amorosa dos pais com a emergência de curiosidades sobre a sexualidade à desilusão em torno da família nuclear da infância, Lígia nos mostrou como a jovem foi, aos poucos, descobrindo-se diferente de seu meio, distinta de sua família, marca tão necessária ao nascimento de um si mesmo separado do narcisismo parental. Tratou-se, assim, de um trabalho de luto de ideais familiares, com concomitante construção de novos ideais, ainda rodeados de certezas, contudo pautados por conquistas realizadas e por realizar em seu meio e na sociedade. O caso nos tomou a todos que acompanhamos a apresentação, envolvidos que nos vimos na discussão, questionando sobre como o trabalho prosseguiu depois do fim do relato apresentado e quais desafios a aproximação do fim da adolescência têm trazido para a jovem.
Cercada de colegas do GTEP, seus ex-coordenadores, Lígia foi recepcionada com alegria pelos que lá estavam do Departamento de Psicanálise. Natural de Fernandópolis, interior de São Paulo, aproximou-se do GTEP em São José do Rio Preto. O encontro com o GTEP produziu transferências que a fizeram se sentir cada vez mais vinculada e pertencendo ao grupo ao longo dos módulos de formação básica e continuada. O desejo de pertencimento ao Departamento de Psicanálise nasceu no contato com seus ex-coordenadores; por intermédio destes, enxergou o Departamento de Psicanálise como uma instituição plural e fértil em produção científica, espaço para desenvolver sua forma própria de ser analista.
Atualmente, além de contribuir para o desenvolvimento de parceria entre seu grupo de estudos (Cultura Psicanalítica) e o GTEP, integra o grupo em-linha: Grupo de Estudos e Pesquisa sobre a Clínica Psicanalítica Online.
Seja muito bem-vinda, Lígia!
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[1] Composta por: Elcio Gonçalves, Gisele Senne, Marcelo Soares, Natalia Gola, Nanci Lima, Roberta Kehdy, Silvia Ribes e Vilma Florêncio.
[2] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.
[3] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.
[4] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, representante da Comissão de Admissão no Conselho de Direção 2021-2023.
[5] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae