Homenagem a Mario Fuks
pelo Grupo Psicanálise e Contemporaneidade[1]
Aquilo que herdaste de teus pais, conquista-o como teu
Goethe
Uma primeira associação emergente no grupo Psicanálise e Contemporaneidade a Mario Pablo Fuks recupera a citação de Goethe, também destacada por Freud no texto “Totem e Tabu”.
Ela traz a marca de nossa filiação ao incansável e primoroso trabalho do colega fundador, pelo qual somos gratos.
Em 2001, junto com professores do Curso de Psicopatologia Psicanalítica e Clínica Contemporânea, Mario Fuks criou, no Departamento, um espaço voltado às reflexões sobre o Mal-Estar Contemporâneo. Com base em leituras de diferentes autores e campos de abordagem, buscava-se, desde o seu início, a riqueza da clínica com a Cultura.
Ele defendeu com determinação que o Grupo funcionasse com base na horizontalidade, na livre circulação da palavra e no respeito às posições individuais e coletivas. Isso nos lançou numa modalidade de trabalho na qual as trocas e a investigação, por diferentes vertentes de pesquisa e temas de interesse, mantiveram o grupo em permanente e contínua formação.
Atento aos movimentos e acontecimentos sociais e políticos de nosso tempo, Mario sempre procurou traduzir os processos de subjetivação resultantes da expansão e avanços da tecnologia, a exemplo da alta velocidade dos fluxos de comunicação da internet e da geração de novas formas de pulsar.
Quantos inesperados e ricas interpretações, nos seus comentários perspicazes e muitas vezes surpreendentes!, entrecruzando as leituras dos temas e o que se passava no grupo, no melhor estilo da análise institucional.
Partilhamos sua história na transmissão teórico-clínica da Psicanálise e através da apropriação de parcelas do legado freudiano e de outros autores. Aprendemos com naturalidade a incluir um Ato, na medida em que as criações implicam tomada de posição ética diante de um cenário político por vezes adverso.
Com ele, experenciamos que – mesmo diante de momentos de recrudescimento da violência simbólico institucional – segue sendo possível com a psicanálise atravessar os “desertos” do eu, dos grupos ou das instituições, com vitalidade, gestos e ações, modificando o curso da vida e intervindo na realidade social e, consequentemente, na história.
Assim, caminhamos por muitos anos no grupo, com discussões férteis, reinscrições conceituais e construções clínicas coletivas. E seguiremos “remando”, procurando, desse modo, honrar a sua memória e o privilégio de ter tido esse convívio enriquecedor.
Mario reunia uma sede de saber contagiante que, associada ao brilho nos olhos e ao singular de seu humor, nos levava “no mesmo barco” a celebrar, criar e buscar novos contornos, ao que até então poderia parecer impossível.
Ao mestre crítico, irônico, consistente e sempre profundamente implicado com a existência solidária e humana: o nosso mais profundo agradecimento.
14/04/2023
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[1] Grupo de Psicanálise e Contemporaneidade: Daniel Modós, Denise Cardellini, Elcio Gonçalves, Ester Alves, Francisca Lutz, Ivan Martins, Katia Cappucci, Leilyane Masson, Lilian Fogaça, Marcia Ramos, Milena Liberman, Nelci Andregheto, Silvia Gonçalves.
Interlocutora: Denise Cardellini