Sexta-feira, 14 de abril
por Nanci de Oliveira Lima[1]
Ele nunca soube, mas foi assistindo uma palestra sua, promovida pelo Conselho Regional de Psicologia, há muitos anos, que descobri o Departamento de Psicanálise. Eu já conhecia o Sedes, por sua tradição na transmissão da Psicanálise e sua posição política, porém, desconhecia como era sua estrutura – organizada em Departamentos.
Na dita palestra, Mario apresentou uma psicanálise implicada com o mundo e com seu tempo, disposta a participar da transformação destes, e interessada em algo muito além que as quatro paredes dos consultórios. Pensei: é isso! Algum tempo depois, foi reconhecendo seu nome no livrinho azul com os cursos do Sedes, que escolhi para qual me inscrever.
Sexta passada foi o dia de homenagearmos sua vida, sua imensa contribuição à psicanálise e, em especial, sua participação na fundação e sustentação do nosso Departamento.
Tive a sorte de ter inúmeras oportunidades de aprender com ele, desde o seminário sobre Narcisismo, no Curso; nas supervisões no Projeto das Problemáticas Alimentares; no pequeno tempo em que participei do grupo de apoio da FLAPPSIP; em seus textos; apresentações em Colóquios e nas Assembleias do Departamento, com seus apontamentos, sempre tão precisos.
Frequentei sua casa, degustei dos quitutes oferecidos nas reuniões do Projeto – como resgatou Liliane Mendonça – e de sua risada marcante, tantas vezes referida ao falarmos dele. Convivi com seu humor afiado e pensamento ágil. E ainda assim, ele me parecia enigmático.
Nesta sexta o conheci um pouco mais. Compartilhamos lembranças e memórias; ouvimos sobre seu percurso ainda na Argentina, soubemos um pouco mais sobre a chegada e vida aqui no Brasil. Pudemos resgatar sua importância para a Saúde Mental em São Paulo, quando levou a psicanálise até a saúde pública, com seu projeto pioneiro. Relembramos quantas parcerias significativas ele fez, conosco e com tantos.
O evento, tão bem pensado pelo Conselho de Direção, buscou ser democrático como Mario sempre quis o mundo. Todos tivemos a oportunidade de nos manifestar, expressando a saudade e a gratidão.
Teve prosa e poesia, teve música e passarinho. Teve livros e revistas com suas produções, teve vinho argentino e empanadas. Teve vídeo, com ele e sobre ele.
Teve vida.
Foi momento de alegria e comunhão.
E ao saber sobre uma menininha e seus caminhos simbólicos para alcançar o avô no infinito, desatei a chorar e deixei vir toda a ambivalência e delicadeza que aquele dia carregava.
_______________
[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, integrante da equipe editorial deste boletim online, da Comissão de Admissão e do GTEP.