Instituto Sedes Sapientiae

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Um poema para Mario

por Helena Lima[1]

 

Esse poema – O habitante – foi escrito pelo poeta moçambicano Mia Couto quando da morte de seu pai, Fernando Leite Couto. Está publicado no livro de poemas Vagas e Lumes. Dedico, com todo o carinho, ao Mario Fuks.

 O Habitante

por Mia Couto

Se partiste, não sei.
Porque estás,
tanto quanto sempre estiveste.
Essa tua,
tão nossa, presença
enche de sombra a casa
como se criasse,
dentro de nós,
uma outra casa.
No silêncio distraído
de uma varanda
que foi o teu único castelo,
ecoam ainda os teus passos
feitos não para caminhar
mas para acariciar o chão.
Nessa varanda te sentas
nesse tão delicado modo de morrer
como se nos estivesses ensinando
um outro modo de viver.
Se o passo é tão celeste
a viagem não conta
senão pelo poema que nos veste.
Os lugares que buscaste
não têm geografia.
São vozes, são fontes,
rios sem vontade de mar,
tempo que escapa da eternidade.
Moras dentro,
sem deus nem adeus.

 

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[1] Psicanalista, aspirante a membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.

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