Em torno de Entretantos Convida 3
por Sílvia Nogueira de Carvalho[1]
Em 1° de setembro realizou-se Entretantos Convida 3 – Democratizar a psicanálise no Brasil: propostas para os próximos cinco anos[2] –, concluindo a série de eventos em que buscamos escutar e conversar com colegas de outras instituições e localidades brasileiras, preparatória de nosso grande encontro Entretantos Cá entre Nós, que se realizará no final de setembro.
A partir das falas implicadas de nossas convidadas, Andrea Guerra[3] e Patrícia Villas-Bôas[4], entre linhas de progresso e dificuldades no caminho da psicanálise, registramos que democratizar-se é:
Considerar o século à frente e nossa posição geopolítica, suas ressonâncias;
Reler Freud com Lelia Gonzalez, entre tantas outras referências, na mobilidade de nossa pulsação libidinal;
Incluir o sujeito do inconsciente no ponto de partida da democratização, cuja precondição é o Estado de Direitos;
Perguntar-se pelo lugar do analista e abster-se de construir véus sob o manto da teoria;
Constituir experiências de borda como espaços de formação em psicanálise num tempo em que se vendem diplomas;
Expandir nossa interlocução entre tantos, chamando mais gente para a conversa;
Incluir-se nos movimentos sociais, escutando desde um lugar mais horizontalizado para entrelaçar subjetividade com cidadania;
Inserir a política na clínica, considerando raça, classe e gênero na pesquisa e na intervenção psicanalítica;
Fazer festa e fazer jornal: boca de rua.
Porque a materialidade do mundo interfere na experiência do inconsciente.
É muita pauta. Tudo pra ontem.
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[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.
[2] A série Entretantos Convida foi organizada entre outubro de 2022 e setembro de 2023 por Fátima Vicente, Paula Francisquetti e Sílvia Nogueira de Carvalho.
[3] Andrea Guerra é psicanalista, formada em Direito e em Psicologia, mestre em Psicologia Social, doutora em Teoria Psicanalítica e professora no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais, onde articula o Núcleo Psilacs: Psicanálise e laço social no contemporâneo e coordena a coleção Decolonização e psicanálise. Pesquisadora do CNPq, é membra da REDIPPOL, do GT Psicanálise, política e clínica do CNPq, do Coletivo Amarrações e das Redes RICa e Ubuntu. O feliz título de seu livro Sujeito Suposto Suspeito anuncia algo do que instigou a essa interlocução: a reflexão acerca das transferências negativas cruzadas que se estabelecem em contextos relacionais de desconfiança. Vale sublinhar seu compromisso com a transmutação desses contextos, também manifesto na apresentação de Psicanálise em elipse decolonial.
[4] Patricia Villas-Bôas é psicóloga, psicanalista e analista institucional, mestre em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da USP, docente no curso de especialização Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica: Clínica e Política na Transformação das Práticas do Instituto Sedes Sapientiae. Patrícia é ainda membro do Departamento de Formação em Psicanálise e uma boa amiga do Departamento de Psicanálise, que agradece sua presença conosco.