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Fala de abertura do evento Espaço Clínico de 15/08/24

por Cleide Monteiro[1]

 

Boa noite a todas, todes e todos aqui presentes.

Quero manifestar nossa alegria por virem compartilhar conosco esse momento de apresentação das reflexões que os aprimorandos do Curso de Psicanálise na Clínica Social do Sedes produziram, a partir da sua experiência de atendimento.

A incumbência de fazer a fala de abertura deste encontro suscita em mim uma rememoração dos vários processos anteriores, que foram determinantes para essa possibilidade de realizar uma experiência em uma Clínica de Serviços, pautada pelo cuidado à saúde mental da população, e que propõe um modo de fazer clínico que valoriza e potencializa a singularidade e a diferença em contraposição à lógica dominante do individualismo, da massificação, da medicalização do sofrimento e do racismo estrutural que alimenta e perpetua a injustiça e a desigualdade social.

A partir da crítica ao modelo clínica-escola baseado no treinamento de alunos, implementou-se um novo modelo, através da construção coletiva do projeto clínico-ético-político, reorganizando-a como um equipamento de serviços, reinventando suas práticas nos marcos da clínica ampliada e inserindo-se mais claramente no campo da Saúde Mental, em sintonia com os movimentos da Reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial.

Fato que se deu em 1994!  Portanto, há 30 anos!!!!!!!!!!!

Em 1996, outro ato instituinte se configurou. O projeto clínico-ético-político da Clínica Psicológica do Instituto Sedes Sapientiae foi aprovado em assembleia e vem, desde então, sustentando suas práticas.

O projeto Aprimoramento faz parte do desenvolvimento do processo de construção dessa Clínica. O Curso de Psicanálise efetivou sua participação nesse processo em 2011 e, desde esse momento, vem construindo e sustentando essa oportunidade de experiência clínica no âmbito do cuidado à saúde mental da população, compondo uma parceria através do trabalho de supervisão dos aprimorandos do Curso de Psicanálise e da participação no Fórum Aprimoramento que congrega todos os cursos que mantêm esse projeto e os profissionais contratados da Clínica, o que possibilita compartilhamentos importantes.

Como gostamos de enfatizar, a experiência no Aprimoramento dá oportunidade de atuação clínica, segundo os fundamentos da psicanálise, com a peculiaridade da inserção numa clínica social, atravessada pelos vetores de classe social, gênero e raça e território. Ela nos convoca a enfrentar problemáticas complexas disseminadas numa cidade como a nossa, na qual encontramos sofrimentos que passam por solidão, desamparo, racismo, abandonos, precariedades de diversas ordens, descasos, pobreza, violências de gênero, falta de oportunidade, desemprego…

Ressaltamos que a Clínica do Sedes, referenciando-se pelo território e pelo trabalho em rede, tem o desafio cotidiano de enfrentar situações que podem passar por uma vulnerabilidade extrema e de promover a aposta na possibilidade de transformação do sujeito na direção de uma vida mais potente, alegre e solidária.

Essa experiência clínica que endossamos é perpassada por uma linha de força que vem desde os ideais fundantes da psicanálise expressos em setembro de 1918, quando Freud, depois do assombro com a destruição e o sofrimento provocados pela Primeira Guerra, defendeu a criação de centros de atendimento para a população, no V Congresso Internacional de Psicanálise em Budapeste.

O histórico do Espaço Clínico

Em 2019, um levantamento feito com os analistas em formação do Curso Psicanálise revelou o desejo por maior atividade ligada à Clínica. Surgiu, então, a ideia de criar o Espaço Clínico, no qual os alunos envolvidos no projeto Aprimoramento pudessem tornar públicas as inúmeras questões clínicas suscitadas pela experiência de atendimento em uma clínica social. Clínica essa que nos desafia constantemente e nos convoca a pensar, a teorizar, dado nosso compromisso com a justiça social e a vida coletiva, e contra as formas cada vez mais precarizadas de existência.

O primeiro encontro aconteceu em agosto de 2019 e foi presencial. Em 2020, devido à pandemia da covid-19 e diante de tantos desafios para criarmos possibilidades de continuidade do atendimento via online, assim como da formação, não conseguimos realizá-lo. Voltamos a realizá-lo em 2021, 2022 e 2023.

Neste ano, como no ano anterior, decidimos preparar o Espaço Clínico de forma coletiva. Esse processo tem nos oferecido uma interessante ampliação das trocas.  É curioso como esse momento de interlocução entre os grupos de supervisão tem se mostrado até mesmo como uma espécie de segundo dispositivo, o de intervisão, em que nos debruçamos sobre os desafios enfrentados no cotidiano dessa clínica, ao mesmo tempo em que organizamos a apresentação do Espaço Clínico.

Para esse ano, com o empenho de  todes,  escolhemos propor uma conversa sobre o impacto do Aprimoramento na atuação do(a)s aprimorando(a)s. Tal impacto nesse momento de abertura à experiência clínica no contexto institucional tem suscitado questões relacionadas à temporalidade, à memória, aos registros clínicos, às transferências e aos dispositivos. Serão apresentadas breves reflexões sobre o trabalho e a vinheta de uma situação clínica que vem desafiando o dispositivo de atendimento proposto e a instituição.

Dando início a atividade teremos:

– A apresentação de Raphael Rodrigues Martins;

– Na sequência, a apresentação de Fabiana Gomes;

– Finalizando, Mariana Victorino fará a apresentação de um caso clínico por ela atendido.

– Abertura para a conversa entre os presentes.

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[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, professora e supervisora no Curso de Psicanálise, supervisora do Aprimoramento e representante do Curso junto à Clínica Psicológica do Sedes.

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