Sobre a Apresentação pública de Gustavo Battagliese
por Nanci de Oliveira Lima[1]
Estivemos reunidos na última sexta de Outubro para assistirmos à apresentação pública do Gustavo Lerner Battagliese, em seu primeiro ato como membro do Departamento de Psicanálise, na qual ele nos presenteou com a leitura do caso clínico escrito especificamente para este rito de entrada.
Gustavo aproveitou bastante do processo de pedido de pertencimento, tendo tomado a escrita do memorial como uma revisita ao seu percurso de vida e de análise, buscando resgatar os laços por onde se enganchou na psicanálise desde os primórdios.
Encontra, em sua história, a vida de vários membros da família perpassada pela psicanálise e pela relação com seus psicanalistas. Ele constata, então, que os psicanalistas sempre ocuparam um lugar muito afetivo em seu imaginário.
Num relato honesto e profundamente reflexivo, Gustavo nos leva pelos meandros de sua memória, na qual encontra, desde menino, uma relação um tanto quanto tensa e ambivalente com seus desejos de saber, pertencer e ser.
Ele nos conta também como percebe os diversos processos analíticos vividos como fundamentais para que essa tensão fosse reduzida, e espaços anteriormente barrados por sentenças às quais esteve preso imaginariamente, pudessem ser, enfim, liberados.
Desde jovem questionador e pensante, deslizou do amor à literatura – em especial ao Gabriel García Márquez – e do prazer de ser escutado para o desejo de escutar e seguir lidando com a multiplicidade humana.
Depois de algumas vivências marcantes em sua vida escolar, ingressou na PUC/SP para cursar Psicologia e, desde lá, já soube do seu desejo em se tornar psicanalista.
Paralelo à graduação Gustavo tornou-se Acompanhante Terapêutico, pelo Instituto A Casa, função com a qual esteve envolvido até recentemente, no início da pandemia.
Seu interesse por Winnicott o aproximou do Departamento, num primeiro momento para localizar o contato daquele que se tornaria seu analista, para – em seguida – ir descobrindo diversas relações e referências que tinham o Departamento como ponto de ligação.
Fincou os pés por aqui quando iniciou sua formação no curso Conflito e Sintoma, fazendo em seguida o curso de Psicanálise. Ele nomeia uma lista longa de transferências fundamentais em sua formação, tendo entre elas, amigos, professores, analistas, supervisores, parceiros de trabalho e de vida. Muitos deles estão presentes no momento da apresentação pública. Permanentemente investido no tripé e na relação com os pares, Gustavo tem forte apreço ao grupo Rede de atendimento psicanalítico, com quem se manteve ligado por 10 anos e é grato por tantas trocas e aprendizados; atualmente, participa dos grupos Faces do traumático e Diário clínico.
Sobre sua clínica, ela se iniciou tímida, logo após o término da graduação em psicologia e se manteve em paralelo com a atividade de AT por bastante tempo, conforme ele mesmo foi percebendo sua energia migrar gradualmente de uma para a outra; já há alguns anos ele está apenas no consultório.
E, após “dar um tempo” das instituições e atravessar a pandemia relativamente distante delas, encontrou em si um novo desejo de pertencer, agora mais livre de amarras e fantasmas, podendo reconhecer-se entre pares e, com isso, veio seu pedido de pertencimento.
De alguém que carregou por longo tempo uma crença de que escrever não era para ele, descobriu-se produzindo e tendo prazer em brincar com as palavras escritas. E assim, vários textos já foram criados por ele, inclusive um deles tendo sido apresentado no Congresso FLAPPSIP, no Uruguai, em 2019.
Para concluir, retomo o início de seu memorial, no qual Gustavo afirma que a psicanálise é o que há de mais constante na vida dele.
Que sorte a nossa (e dele) que assim tenha sido!
Bem-vindo, Gustavo!
__________
[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, integrante do GTEP, da equipe editorial do Boletim online e da Comissão de Admissão do Departamento de Psicanálise.