boletim online

jornal de membros, alunos, ex-alunos e amigos de psicanálise

Notas sobre o “novo” cenário mundial

por Anderson Pedrini[1]

 

Podemos assumir aqui entre nós: O mundo já estava um tanto “estranho”. Aliás, ficou ainda mais “estranho” quando vista, na prática, a eleição para um segundo mandato de um político igual a Donald Trump. Amado por alguns, odiado por tantos, Trump vem agora em sua “versão 2.0” com grande legitimidade das urnas e com um programa de governo que foi apoiado massivamente pelos norte-americanos. Surge então uma importante questão que paira em meio a angústias e incertezas: O que esperar frente ao “novo” cenário mundial?

É impossível analisar qualquer fato ou circunstância sem ter o entendimento de que vivenciamos um ciclo de nossa história demarcado por uma forte crise mundial, que possui caráter de impacto em diversas dimensões, como ambiental, política, social, ideológica, na saúde mental dos trabalhadores e de perspectivas de se pensar um mundo melhor. É um cenário, portanto, propício para grandes conflitos e guerras, para a elevação da concentração de renda e consequente vulnerabilização ainda mais profunda e violenta da grande massa da população mundial e de surgimento ou ressurgimento de figuras repletas de “respostas fáceis” para solucionar o mundo que se encontra em estágio doentio.

Mesmo com a finalização do primeiro mandato desgastada por episódios como da importante reação popular Black lives matter, pelo negacionismo adotado frente à pandemia da COVID e pela tentativa absurda de golpe com a invasão do Capitólio, Trump ganha a eleição com o discurso nacionalista de slogan América para os americanos, surpreendendo alguns, porém agradando outros. A composição de base que sustentou e apoiou diretamente esse projeto ficou explícita no momento de posse: Empresários que dominam as chamadas big techs, bilionários do mercado e representantes de grandes empresas, por exemplo petrolíferas que possuem explorações em todo o mundo, inclusive com diversas áreas estratégicas e de recurso abundante na América Latina. No próprio discurso de posse ficou evidente o interesse do momento, que é o de instalar a chamada “era de ouro” apontando ao seu próprio país, mas sobretudo ao mundo, que a sanha e a ambição estão acima da soberania dos povos, demonstrando não só o absurdo que mora em questão, mas também o risco sob o qual estão colocadas as nações.

As ações já realizadas nesses meses de mandato demonstram a que veio, como ao desmonte das políticas públicas voltadas à pauta da questão racial e da diversidade sexual, a extinção de diversos órgãos e leis de proteção ambiental e a expulsão de diversos imigrantes de forma autoritária e violenta, como o caso dos brasileiros que só puderam retirar algemas no instante que pousaram em solo brasileiro.

Além disso, em âmbito internacional, impôs de imediato diversas taxações, em especial para enfraquecer seu principal inimigo na geopolítica, que é a China, mas também ao utilizar esse instrumento para chantagear diversas nações para se alinharem de forma automática à política econômica americana. Abre-se por consequência uma janela de constantes ameaças, como é o caso da imposição de subordinação do Canadá aos interesses estadunidenses e a reivindicação do uso e controle do canal do Panamá, que é um espaço estratégico de circulação e comércio de todo o continente.

Todos os fatos apontam, portanto, para um giro ainda mais voraz na tentativa de manutenção do controle mundial, seja através da pressão econômica, da radicalização dos discursos, da exploração predatória da diversidade de recursos naturais e também, em casos mais complexos, do uso da força militar.

Por fim, talvez um dos fatores ainda mais preocupantes é o fortalecimento ideológico, político e organizacional de forças que se unificam a partir do discurso autoritário da chamada extrema-direita, abastecidas seja no campo das redes sociais, seja no campo das batalhas concretas, que é o meio do próprio povo.

Logicamente todas as movimentações geram uma gama de contradições que não nos permitem avaliar com exatidão qual será o desfecho de tamanho impacto no mundo. Certamente a exatidão deve morar no fato que é mais do que necessária toda a atenção ao que está acontecendo no atual jogo mundial, efeitos e consequências em uma conjuntura ainda mais complexa e acelerada.

Que esse exemplo, um triste e complexo exemplo da história da nossa sociedade, nos impulsione para a devida análise e organização de caminhos que derrotem o retrocesso da sociedade.

__________

[1] Anderson Pedrini é integrante do centro de educação popular do Instituto Sedes Sapientiae – CEPIS, diretor eleito do Instituto Sedes Sapientiae para a gestão 2025-2027.

uma palavra, um nome, uma frase e pressione ENTER para realizar sua busca.