217 anos no 1o ano 2025 de Clínica Psicanalítica: Conflito e Sintoma[1]
por Sílvia Nogueira de Carvalho[2]
Com muita alegria saúdo este auditório, presencial e remotamente repleto de tanta gente que nós, equipe do curso Clínica Psicanalítica: Conflito e Sintoma, pudemos reconhecer em seu desejo de psicanálise, campo ao qual adentraram através de experiências diversas: de análise pessoal, de estudo crítico cultural e/ou de alguma práxis clínica. Somos um grupo de 12 psicanalistas professores, membros do Departamento de Psicanálise, aqui e acolá representados pelo conjunto de colegas que darão vivacidade e eloquência à transmissão cotidiana da psicanálise para este 1o ano –na modalidade presencial: Ana Patitucci, Camila Munhoz, Cristina Barczinski, Gustavo Veiga, Silvio Hotimsky e Tide Setubal; na modalidade online: Christiana Freire– e pelas professoras coordenadoras do curso, Daniela Danesi e eu, Sílvia Nogueira de Carvalho. Foi entrevistando cada uma e cada um de vocês que identificamos, por sua implicação com a psicanálise, o interesse comum em trabalharmos juntos neste 2025 que este encontro inaugura. Já estamos aqui, sejam bem-vindes!
Nesta recepção ao conjunto de estudantes do 1o ano se juntam duas das turmas de 2o ano, as que desde o último dia 06 são acompanhadas por mim e pela Dany, enquanto que as demais três turmas de 2o ano, acompanhadas por Iso Ghertman, Marta Azzolini e Rodrigo Blum, cederam seus lugares para que o espaço deste auditório nos acomodasse razoavelmente bem. Elas terão posterior acesso ao conteúdo do que pretendemos transmitir-lhes.
Este início da 29a turma de Conflito e Sintoma marca, para nós, a passagem da coordenação do curso que foi criado por Ana Maria Sigal[3] e Lucía Barbero Fuks[4], nossas queridas aqui presentes, e proposto, em setembro de 1996, às duas instâncias decisórias institucionais: a Diretoria do Sedes e o Conselho de Direção do Departamento de Psicanálise, com a ciência do Curso de Psicanálise ao qual elas pertencem desde os inícios. A carta proposta dizia assim:
“Como resultado da discussão de um projeto que há alguns anos vem ocorrendo no Setor Cursos do Departamento de Psicanálise, e de encontro a uma intenção da Diretoria do Sedes de abrir novos caminhos de trabalho com a comunidade, estamos propondo para o próximo ano a criação de um curso que oferece uma via de entrada para aqueles que têm como interesse aproximar-se dos conceitos fundamentais da Psicanálise.
Este curso, organizado em seminários, propõe fornecer os instrumentos necessários para, numa abordagem inicial, pensar a clínica psicanalítica e sua implementação em outras áreas.
Freud será o eixo teórico.
Para articular um campo tão complexo como o da psicanálise enquanto método, teoria e prática, escolhemos o CONFLITO E O SINTOMA como via de acesso privilegiada.
Reunimo-nos, Ana Maria Sigal e Lucía Barbero Fuks, para desenvolver o projeto, preparando um programa e coordenando um plano de trabalho.
Para sua implementação formamos uma equipe que conta majoritariamente com psicanalistas do Departamento, mantendo aberta a possibilidade de, quando necessário, convidar profissionais de outras áreas.
É nosso interesse criar novos espaços que permitam a aproximação de pessoas que queiram iniciar sua formação mas não encontram no momento as possibilidades de acesso a uma inserção institucional, e também de profissionais que, atuando em outras áreas, busquem na teoria psicanalítica uma referência para sua prática.
Entendemos que o Curso de Psicanálise mantém, dentro do campo psicanalítico, um lugar reconhecido e caracterizado de altos estudos, destinado a colegas que vêm percorrendo um bom tempo de formação e com um desejo mais claro de se dedicar à prática psicanalítica. Faz-se portanto necessário criar este espaço que abrirá as portas a novos profissionais.”
Portas abertas, a apresentação de hoje também almeja convidar-lhes a se situarem nas tramas institucionais que nos dão lugar: o Sedes Sapientiae, fundado como Instituto em 1977 pela sede de sabedoria da Madre Cristina (1916-1997), e que há 48 anos tem construído um trabalho sólido nas áreas da saúde mental, da educação e da filosofia –trabalho que veio contando com participações inestimáveis tais como de Dodora Arantes[5], que foi diretora eleita pela comunidade Sedes por quatro mandatos de três anos e cuja destacada contribuição aos Direitos Humanos em nosso país torna tão honrosa para nós sua presença hoje neste auditório. Pois bem, o Sedes é uma instituição filantrópica que sustenta solidariedade e justiça social dentre seus princípios e desenvolve seus trabalhos em diálogo com movimentos sociais em luta pelo reconhecimento da universalidade de direitos frente às particularidades de violências históricas que advêm do campo político-social. Neste contexto, foi fundado há 40 anos o Departamento de Psicanálise (1985) como associação de psicanalistas em diálogo crítico com nosso tempo histórico, incluído o diálogo com os demais âmbitos culturais que marcam a presença da psicanálise no mundo hoje, tais como a universidade e a mídia, âmbitos dos quais nos distinguimos.
Assim, em sua especificidade no campo psicanalítico, nosso curso temático de transmissão da psicanálise se interessa pelo papel fundamental que, em sentido lato, a universidade tem no trabalho da cultura –o de um lugar em que as pessoas vão estudar, discutir, refletir e transmitir ideias e conhecimentos[6]–, ao passo que se diferencia de seu sentido administrativo, abstendo-se de um recorte acadêmico.
Neste sentido, é particularmente relevante para nós participar da interlocução que nosso Departamento estabelece com entidades psicanalíticas diversas, tais como aquelas que conosco compõem o Movimento Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras[7], movimento que desde o ano 2.000 objetiva sustentar o discurso psicanalítico tomando a não-regulamentação da psicanálise como princípio fundamental, uma vez que não cabe submeter nossa práxis a nenhum controle de Estado, pela própria essência e ética que a constituem. Poderemos vir a conversar e a atualizar nosso conhecimento em torno disso ao longo de nossos estudos, com a contribuição direta de nossa colega Ana Claudia Patitucci[8], que é uma das atuais representantes do Departamento nesse movimento.
Igualmente significativo para nós é o trabalho de pensamento oportunizado pelo pertencimento do Departamento de Psicanálise à FLAPPSIP, a Federação Latino-Americana de Associações de Psicoterapia Psicanalítica e Psicanálise[9], que reúne instituições argentinas, brasileiras, chilenas, peruanas e uruguaias. Essa atual pertença solicita nossa atenção à valorosa história do movimento psicanalítico na América Latina, mobilizando-nos a sustentar sua vocação emancipatória, na perspectiva engajada que incluiu atuações pioneiras de psicanalistas que migraram da Europa escapando do fascismo, tais como da austríaca Marie Langer –a Mimi da luta feminista da Viena dos anos 1920, do enfrentamento da regra de neutralidade política implantada na Sociedade Psicanalítica da Viena dos anos 1930, da cofundação da Associação Psicanalítica Argentina nos anos 1940, da cocriação do Movimento Plataforma no final dos anos 1960 e da consequente denúncia da participação do médico candidato à Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro Amílcar Lobo na tortura de presos políticos no Brasil dos anos 1970[10], testemunhada por Helena Besserman Vianna no livro Não conte a ninguém[11].
Tal vocação coletiva foi capaz de promover, nas palavras de Fernando Urribarri, “um movimento analítico freudiano, heterodoxo, cosmopolita, aberto, notavelmente criativo e comprometido”[12], renovando-se na diáspora psicanalítica produzida em nosso continente a partir dos exílios impostos pelos terrorismos de Estado. Na bibliografia de nosso curso, o convite à prioridade dessa psicanálise instituinte se encontra desde logo na indicação da saborosa biografia Sigmund Freud: o século da psicanálise 1895-1995, elaborada pelo psicanalista argentino Emilio Rodrigué (1923-2008) que em 1974 se instalou na Bahia, estabelecendo pontes entre diversas culturas do continente latinoamericano, como se lê no verbete “Brasil” do Dicionário de Psicanálise[13]. Registros desse amplo legado também se encontram na variedade de artigos, entrevistas e testemunhos que ao longo do tempo foram publicados em nossos periódicos pelos colegas argentinos que vieram viver em São Paulo e, ao lado de Regina Schnaiderman (1923-1985) e de tantos outros, cofundaram nosso Departamento, como se detalha no livro História do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae[14], eletronicamente disponível em nosso site[15]. Nossa apropriação dessa herança solicita permanente atenção para distinguirmos entre a fundamental atitude ética da abstinência clínica e uma pretensa neutralidade política[16] –pois a psicanálise é profundamente solidária dos espaços democráticos de circulação da palavra, cuja sustentação está sempre entregue à constância de nossos próprios atos[17]. A fim de tomarmos “o pulso atual da psicanálise”, estejam desde já convidadas e convidados a participarem conosco do XIII Congresso FLAPPSIP, que em outubro deste ano se realizará na cidade de Lima, Peru, sob o tema Eros, alteridade e criatividade em tempos de assombro e a secretaria científica de Silvia Leonor Alonso. Estejam também cientes de que o XIV Congresso se realizará em 2027 sediado por nós, aqui em São Paulo.
Também acompanhamos discussões de interesse para nosso campo através das conversas com diversos amigos do Departamento, seja por intermédio de publicações e de eventos tais como os da série Entretantos convida[18] 2022-2023, seja no uso consequente que procuramos fazer dos meios digitais, uso que problematiza atuais tendências de difusão ligeira e de simplificação panorâmica do saber psicanalítico.
O interesse de nosso curso é mais bem o de oferecer um percurso através dos pilares conceituais freudianos em diálogo aberto com os marcadores sociais –de gênero, classe, raça– que atravessam nossa atualidade. Para isso, nossas turmas reúnem profissionais da saúde, educação, ciências sociais, direito, artes e comunicações cujas práticas demandam lidar com fenômenos psíquicos, com conflitos e com sintomas, assim como quem se inicia na formação psicanalítica e deseja conosco estudar seriamente a teoria no contexto de pequenos grupos coordenados por professores psicanalistas, os quais se servem de seu inconsciente durante a transmissão, disponíveis a encontrar e criar sempre algo de novo nessa experiência[19]. Para as pessoas que atendam aos requisitos necessários, esse trajeto pode incluir a articulação entre nosso estudo teórico, sua análise pessoal de livre escolha e o atendimento psicanalítico na Clínica social do Sedes com suporte da supervisão grupal oferecida pelo curso, sob a atual responsabilidade de Camila Munhoz, Rodrigo Blum e Tide Setubal. Sobre as condições para se candidatarem a esse Aprimoramento, teremos em junho a ocasião de conversar extensamente numa reunião específica a ser acompanhada pelo professor Iso Ghertman, que assume a função de representante do nosso curso junto à Clínica do Sedes.
De imediato, será possível ainda saber mais a respeito de nossas pesquisas e produções por intermédio das 3 publicações com que hoje presenteamos vocês, gesto que conta com a articulação de Daniela Athuil na área de Publicações e Comunicação do Conselho de Direção: o Guia do Departamento de Psicanálise, cuja mais recente edição se encontra acessível em nosso site[20]; um exemplar de nossa prestigiosa revista Percurso e outro exemplar de algum de nossos livros de produção interna: o volume A clínica conta histórias, que integra a coleção de debates do Curso de Psicanálise ou o volume Interlocuções sobre o feminino: na clínica, na teoria, na cultura, da coleção do grupo de formação contínua O feminino e o imaginário cultural contemporâneo, ou ainda o volume Ditadura civil-militar no Brasil: o que a psicanálise tem a dizer, produzido a partir de significativo evento realizado pelo Departamento no ano de 2014. Também será possível conhecer-nos através do convívio que advirá das conversas de corredor, dos encontros de lanchonete, dos silêncios de nossa biblioteca pública, da frequentação de nossos futuros eventos, do convite à leitura e à escrita do Boletim online, jornal digital de membros, alunos, ex-alunos e amigos do Departamento em página aberta na web[21], da oportunidade de assinatura da revista Percurso[22] a preços de estudante e de leitura digital de seu acervo, da recepção informada das postagens em nossas redes sociais: Blog[23], Facebook[24], Instagram[25] e dos canais do Departamento no YouTube[26] e no WhatsApp[27]. A curiosidade de vocês em torno de nossa vida cotidiana incidirá, deste modo, na renovação de nossa vida comum.
No marco dos 100 anos da publicação do Estudo autobiográfico de Sigmund Freud, escrito pelo qual iniciam-se os seminários do primeiro ano, queremos reafirmar a vigência e a potência de um conhecimento que partilha uma visão de mundo científica ao “estender o trabalho de investigação à esfera psíquica”[28] e ao “distinguir cuidadosamente entre o saber do inconsciente e as ilusões decorrentes de singulares exigências afetivas”[29]; uma teoria e uma prática que dizem respeito a uma “abordagem ética sobre a problemática que envolve o sujeito e suas relações sociais, assim como em sua relação com sua incompletude”[30]; um método de pesquisa que, de acordo com Freud, articula subjetividade e objetividade, singularidade e história[31]. Eis o motivo pelo qual a psicanálise que fazemos participa da interlocução com os campos conexos da arte e da literatura, a fim de procurar se colocar à altura da contemporaneidade –sempre antevista pelo artista–, assim como assume recíproca interpelação com a filosofia.
Desde sua descoberta do inconsciente e da invenção da psicanálise, Freud interpelou notadamente a filosofia do sujeito originário, aquele sujeito que estaria inscrito no campo da consciência e seria enunciado no registro do Eu[32]. Assim, asseverou que a psicanálise feria uma pretensiosa imagem narcísica humana, ao notar que “o Eu não é nem mesmo senhor de sua própria casa”[33], pois Eu é movido por forças que desconhece. Como ironiza o Sanches inventado por Fernando Pessoa no Livro do desassossego de 1914, “Nem sei se nada sei”[34]. Na obra freudiana, esse descentramento do sujeito desloca nossa atenção flutuante, da consciência para o inconsciente –assunto a ser estudado no decorrer do primeiro ano do curso–, assim como nos desloca do Eu para o Outro; e da consciência, do Eu e do inconsciente para as pulsões –descentramentos abordados ao longo dos estudos do segundo ano do curso.
A psicanálise é impensável sem o conflito, que se define em termos intrapsíquicos, no jogo entre forças pulsionais e forças defensivas. Como abordagem inicial, nosso tema de trabalho privilegia a clínica das neuroses, pois alude ao recalque dos desejos que retornam nos sintomas, nos sonhos e em outras formações do inconsciente. Vocês talvez se lembrem da canção de Milton Nascimento que começa por dizer: Agora não pergunto mais aonde vai a estrada / agora não espero mais aquela madrugada / vai ser vai ser vai ter de ser vai ser faca amolada[35]… Então… Nossa faca amolada foi afiada na particularidade da transmissão conceitual do sintoma, mas não deixará de apontar para o outro sentido contido nessa canção: a amolação produzida por aquilo que foi infernizado e atacado desde a realidade, e que nos permite identificar a função dessubjetivante de traumatismos cujos restos retornam em afecções psicossomáticas, em atos e em compulsões.
No contexto sociopolítico vigente, de acentuado brutalismo, de predomínio das práticas políticas de demolição, quebra, apedrejamento, pilhagem e esmagamento, somos interpelados pela reflexão do filósofo camaronês Achille Mbembe sobre o devir africano do mundo, que denuncia o curso de um vasto empreendimento de ocupação territorial, de domínio sobre os corpos e os imaginários, que em toda parte conduz a extensos e permanentes estados de emergência ou de exceção. Sublinho que tais estados concernem ao modo como os corpos singulares e os corpos coletivos são tocados, e cito:
“os corpos vivos [se encontram] expostos ao esgotamento físico e aos mais variados tipos de riscos biológicos, não raro invisíveis (intoxicações agudas, cânceres, anomalias congênitas, distúrbios neurológicos, alterações hormonais). Reduzida a uma fina camada e a uma superfície, é a totalidade da matéria viva que está sujeita a ameaças sísmicas. A dialética da demolição e da ‘criação destrutiva’, na medida em que tem por alvo os corpos, os nervos, o sangue e o cérebro dos humanos, assim como as entranhas do tempo e da Terra, está no cerne dos reflexos que se seguem.”[36].
Seja como psicanalistas, seja como amigos da psicanálise, esses estados e esses reflexos nos dizem respeito, pois a decorrente experiência de aceleração infinita arrefece a sensibilidade, a capacidade comum de “compreender o que não pode ser dito em palavras, de compreender intuitivamente o continuum da vida que não pode ser traduzido em simples signos”[37] e faz desaparecer a generosidade, pensada pelo filósofo Bifo Berardi como consciência empática de pertencimento ao gênero[38].
Mais além dessa generosidade fundamental, escutaríamos as feras no encontro ancestral entre espécies, tal como havido entre uma antropóloga e um urso na narrativa literária de Natassja Martin[39] para, de volta a Mbembe, nos dispormos favoráveis a uma nova consciência planetária e à utópica refundação de uma comunidade de seres humanos em solidariedade com todos os seres vivos[40].
É a esse horizonte que somos particularmente movidos, em nosso trabalho compartilhado, pela presença heterogênea de pessoas diversas em cada uma das turmas que compusemos para este ano. No desejo expresso desde a carta que lhes endereçamos quando se candidataram ao nosso curso, tomara seja cada vez mais di-verso nosso público. Hoje, passamos a contar com vocês como nossos estudantes, profissionais atuantes nos mais diferentes campos, numa espécie de reserva de tempo e espaço para dar atenção a si mesmo e entender algo a respeito do outro. Pois, no recente dizer de Ana Sigal,
“a teoria psicanalítica se refere à construção de ideias e conceitos que se articulam tanto em processos individuais como de socialização. Aborda o indivíduo mas também o laço social, e esta é uma razão expressiva para o papel importante que têm as instituições na formação. A psicanálise se pensa levando em conta as instituições que sustentam sua transmissão. Política institucional, política na teoria e política na cidadania. O método psicanalítico imbrica indivíduo e sociedade e os textos sociais de Freud também nos mostram os processos incipientes do que será a psicologia individual”[41].
Algo desse trabalho em movimento pode ser conhecido por vocês através da recomendável leitura dos três artigos que, sob diferentes composições, nossa equipe de professores elaborou para os eventos que designamos Entretantos. Eles se encontram publicados na edição 71 do Boletim online, de junho de 2024, a partir da parceria estabelecida com nosso curso por ocasião da despedida de Lucía Barbero Fuks, e se intitulam: “Conflito e sintoma: uma abordagem da teoria psicanalítica”[42] (2014); “Desalienação, transmissão e psicanálise”[43] (2016); “Transmissão da teoria psicanalítica no curso Conflito e Sintoma”[44] (2023).
Como sujeitos leitores, nossa concepção de trabalho também poderá ser acompanhada a partir da relação cotidiana que nos propomos a estabelecer com o texto freudiano, no interjogo entre reconhecimento e compreensão, entre interpretações e construções[45] que desconcertam e afetam nossas subjetividades. Sobre a política de leitura que adotamos, escutaremos a seguir a companheira colega Daniela Danesi.
Calculando, por fim, um desfecho para essa intervenção, sugiro dela extrairmos certa operação de soma: 100 anos de “Um estudo autobiográfico” de Freud (1925) + 48 anos de Instituto Sedes (1977) + 40 anos do Departamento de Psicanálise (1985) + 29 anos de Conflito e Sintoma (1997) perfazem os 217 anos que prazerosamente lhes dispomos. Que nos sirvam de inspiração para vivermos um bom ano juntos.
Bibliografia consultada:
Berardi, F. (2009). Depois do futuro. São Paulo: Ubu, 2019.
Birman, J. (1996). Por uma estilística da existência. São Paulo: Editora 34.
________. (2021). Ser justo com a psicanálise: ensaios de psicanálise e filosofia. Rio de Janeiro: Civilização brasileira.
Cytrynowicz, M. M.; Cytrynowicz, R. (2006). História do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. São Paulo: Narrativa Um. Disponível em https://sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/arquivos_comunicacao/Sedes Miolo Final dupla.pdf
Freud, S. (1912). Recomendações ao médico para o tratamento psicanalítico In Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.
________ (1917). Conferência 18: Fixação no trauma. O inconsciente In Obras completas, v. 13: Conferências introdutórias à psicanálise (1916-1917). São Paulo: Cia das Letras, 2014.
_______ (1925). Autobiografia In Obras completas v.16: O Eu e o Id, ‘Autobiografia’ e outros textos (1923-1925). São Paulo: Cia das Letras, 2011.
_______ (1933). Conferência 35: Acerca de uma visão de mundo In Obras completas v. 18: O mal-estar na civilização, Novas conferências introdutórias à psicanálise e outros textos (1930-1936). São Paulo: Cia das Letras, 2010.
Gabarron-Garcia, F. (2021). Uma história da psicanálise popular. São Paulo, Ubu, 2023.
Martin, N. (2019). Escute as feras. São Paulo: Editora 34, 2021.
Mbembe, A. (2020). Brutalismo. São Paulo: n-1, 2021.
Nascimento, M. Minas. EMI-Odeon, 1975.
Pessoa, F. (1997). Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. São Paulo: Cia das Letras, 1999.
Roudinesco, E.; Plon, M. (1998). Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Sigal, A. M. Transmissão da teoria psicanalítica no curso Conflito e Sintoma In Boletim online 71, junho 2024. Disponível em https://sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/boletimonline/2024/06/15/transmissao-da-teoria-psicanalitica-no-curso-conflito-e-sintoma/
Urribarri, F. Contribuciones al psicoanálisis del malestar contemporáneo: Aportes a una genealogía del psicoanálisis argentino. Percurso 62 – História, criatividade e resistência – ano XXXI – Junho 2019. Disponível em https://percurso.openjournalsolutions.com.br/index.php/ojs/article/view/146/144
__________
[1] Apresentado como aula inaugural do curso Clínica Psicanalítica: Conflito e Sintoma em 20 de março de 2025 no auditório Madre Cristina do Instituto Sedes Sapientiae.
[2] Psicóloga, analista institucional, psicanalista. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, editora de seu jornal digital Boletim online e professora coordenadora do curso Clínica Psicanalítica: Conflito e Sintoma. Foi cofundadora e integrante dos grupos Arte e Psicanálise (2007-2019) e Partilhas da Clínica (2017-2019) no Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos de São Paulo (EBEPSP). Compôs o coletivo Escuta Sedes (2018-2023), ganhador do 12o Prêmio Carrano de Luta Antimanicomial e Direitos Humanos em 2020.
[3] Ana Maria Sigal é psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, professora do Curso de Psicanálise desde 1976, cofundadora do curso Clínica Psicanalítica: Conflito e Sintoma em 1997, que coordenou até o final de 2024. Foi representante do Departamento de Psicanálise no movimento Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras por quase 20 anos, desde sua fundação no ano 2000. Autora de Escritos metapsicológicos e clínicos (Casa do Psicólogo 2009), O lugar dos pais na psicanálise de crianças (Escuta 2002) e O originário e o recalque primário: considerações sobre a formação do sujeito psíquico e as novas patologias (Blucher 2025, no prelo). Coorganizadora de Ofício do psicanalista II: porque não regulamentar a psicanálise (Escuta 2019). Foi entrevistada pela revista Percurso 73.
[4] Lucía Barbero Fuks é psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, professora do Curso de Psicanálise desde 1976, cofundadora do curso Clínica Psicanalítica: Conflito e Sintoma em 1997, que coordenou até o final de 2023. Autora de Narcisismo e vínculos (Casa do Psicólogo 2008). Coorganizadora de 4 dos livros da coleção de debates do Curso de Psicanálise: A clínica conta histórias (Escuta 2000); Desafios para a psicanálise contemporânea (Escuta 2003); O sintoma e suas faces (Escuta 2006); Psicanálise em trabalho (Escuta 2012). Testemunhou seu trajeto na psicanálise para a seção Depoimento da revista Percurso 70, ano XXXV, junho 2023, disponível em: https://percurso.openjournalsolutions.com.br/index.php/ojs/article/view/1429/1486
[5] Maria Auxiliadora de Almeida Cunha Arantes (Dodora) é psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. Foi diretora eleita pela comunidade Sedes nos períodos sequenciais de 2001 a 2003 e de 2004 a 2006 e, depois, de 2016 a 2018 e de 2019 a 2021. Militante política desde o ensino secundarista, foi agraciada com diversos prêmios e ocupou a Coordenadoria-Geral de Combate à Tortura, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em 2009 e 2010. Mestre em psicologia clínica e doutora em ciências sociais pela PUC-SP, teve seus trabalhos acadêmicos respectivamente publicados nos livros Pacto re-velado: psicanálise e clandestinidade política (Escuta, coleção Plethos, 1999) e Tortura: testemunhos de um crime demasiadamente humano (Casa do Psicólogo 2013). Coorganizadora do livro Ditadura civil-militar no Brasil: o que a psicanálise tem a dizer (Escuta: Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae 2016).
[6] A precisão deste sentido da universitas foi indicada pelo filósofo Plinio Prado Jr. na comunicação intitulada O trabalho da cultura contra o culto da guerra, em realização do Departamento de Psicanálise de 24 de setembro de 2019, e se encontra reportada por Maria Aparecida Kfouri Aidar, Nanci de Oliveira Lima e Sergio de Gouvea Franco na edição 52 do Boletim online, de novembro daquele ano.
[7] https://www.instagram.com/movimentoarticulacao/
[8] Movimento Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras: notícias do front, por Ana Patitucci. Boletim online 62, abril 2022. Disponível em https://sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/boletimonline/2022/04/11/movimento-articulacao-noticias-do-front/
[10] Gabarron-Garcia 2021/2023, cap. 4, pp. 117-140.
[11] Vianna, H. B. (1994). Não conte a ninguém: contribuição à história das Sociedades Psicanalíticas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Imago.
[12] Urribarri 2019, p. 34.
[13] Roudinesco e Plon 1998, p. 91.
[14] https://sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/arquivos_comunicacao/Sedes Miolo Final dupla.pdf
[15] https://sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/index.php
[16] Sobre isto, ver o artigo “Abstinência”, de Ana Maria Sigal, no prelo da edição 74 do Boletim online, que será lançada em abril próximo.
[17] Meu convite anterior à leitura de um legado latinoamericano foi proferido na Livraria da Vila Madalena em 20 de outubro de 2023 por ocasião do lançamento póstumo do livro Psicopatologia psicanalítica e subjetividade contemporânea, de Mario Pablo Fuks (Blucher 2023), intitulado “Cem vezes Mario” e publicado na edição 69 do Boletim online, novembro 2023. Disponível em https://sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/boletimonline/2023/11/17/cem-vezes-mario-convite-a-leitura-de-um-legado-latinoamericano/
[18] Disponíveis no canal do YouTube: Entretantos convida 1: democratizar a psicanálise no Brasil: https://youtu.be/mQPPGKPeugE?feature=shared; Entretantos convida 2: democratizar a psicanálise no Brasil: https://youtu.be/xh9GxqLtFMI?feature=shared; Entretantos convida 3: democratizar a psicanálise no Brasil: https://youtu.be/rWOwDyRGbq8?si=3LKU4a64WHqMmeBE
[19] Freud 1912/2017, p. 101.
[20] https://www.sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/imagens_comunicacao/231211_GDP2023_digital.pdf
[21] https://sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/boletimonline/
[22] https://percurso.openjournalsolutions.com.br/index.php/ojs
[23] https://deptodepsicanalise.blogspot.com/
[24] https://www.facebook.com/departamento.depsicanalise/?locale=pt_BR
[25] https://www.instagram.com/departamentodepsicanalise/
[26] https://www.youtube.com/@departamentodepsicanalise336
[27] https://whatsapp.com/channel/0029Va9MEez72WTyQ7xPTJ1b
[28] Freud 1933/2010, p. 323.
[29] idem, p. 324.
[30] Sigal 2024.
[31] Freud 1925/2011, p. 77.
[32] Birman 2021, p. 24 et seq.
[33] Freud 1917/2014, p. 310.
[34] “(…) a ironia atravessa dois estádios: o estádio marcado por Sócrates, quando disse ‘sei só que nada sei’, e o estádio marcado por Sanches, quando disse ‘nem sei se nada sei’. O primeiro passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós dogmaticamente, e todo o homem superior o dá e atinge. O segundo passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós e da nossa dúvida, e poucos homens o têm atingido na curta extensão já tão longa do tempo que, humanidade, temos visto o sol e a noite sobre a vária superfície da terra”. Pessoa 1997/1999.
[35] Fé cega, faca amolada, Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1975.
[36] Mbembe 2020/2021, pp. 14-15.
[37] Berardi 2009/2019, p. 20.
[38] Idem, p. 86.
[39] Martin 2019/2021.
[40] Mbembe 2020/2021, p. 19.
[41] Sigal 2024.
[42] Por Eliane Berger e Soraia Bento. Disponível em https://sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/boletimonline/2024/06/15/conflito-e-sintoma-uma-abordagem-da-teoria-psicanalitica/
[43] Por Alessandra Sapoznik, Ana Maria Sigal, Christiana Freire, Daniela Danesi, Iso Ghertman, Lucía Barbero Fuks, Maria Marta Azzolini, Natalia Gola, Noemi Moritz Kon, Sílvia Nogueira de Carvalho e Soraia Bento, Disponível em: https://sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/boletimonline/2024/06/15/desalienacao-transmissao-e-psicanalise/
[44] Por Ana Maria Sigal. Disponível em https://sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/boletimonline/2024/06/15/transmissao-da-teoria-psicanalitica-no-curso-conflito-e-sintoma/
[45] Birman 1996, p. 59 et seq.