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Ao trovador medieval e sua cantiga de amor

por Rubia Delorenzo[1]

 

 

Ouvi em tuas palavras, ao som que ondula em tua harpa, ao som do sopro de tua flauta, promessas de união.
Em tua voz melíflua escorriam fluidos desejo e mel.
Que queres? Uma boda, um banquete?

Acautelei-me.

Mulher, menina, entre querer e duvidar
Riscos sempre meus.

Acautelei -me.

Sou só, mas comungo.
Comungo na partilha.
Comungo no comum.
Estou entre outras, como as outras.
Beguina, não tomei o véu.
Não sou santa nem sagrada.
Não me visto como monjas.
Não me ajoelho, penitente.
A touca branca, a roupa de linho rústico, o avental, são minhas vestes.
De dia, a terra, o corpo de minha lida.
À noite, leitura arguta, lapidada, nos claustros proibida.
Passeio pela biblioteca e rio.
Frouxo o fluxo do meu riso.
Sem que a língua fique roxa.
Sem que o ferro me castigue.

Pela melodia que atravessa esse teu canto, pela canção ardente que me ofertas, não seria o amor que me devotas um amor de captura, paixão de cativeiro?

Março de 2025

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[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, colaboradora do boletim online.

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