Dobras

por Alcimar Alves de Souza Lima[1]

 

 

O MOMENTO PERPÉTUO PULSA

LAGOS PRAÇAS CONTRAFORTES MEMÓRIAS

 

PESSOAS MEDIDAS COMPASSOS
O VERBO E O VENTO
O NOME DE TUDO
GRAMA ROCHEDO AR
ÁRVORE
NUM GOLPE IRREVERSÍVEL
VIU QUE O AR NÃO ESTAVA FORA

O FOCO
A LENTE DESFOCADA
CADA
MOMENTO INUSITADO
CAPTA FIGURA FUGAZ
FOTOGRAFADA
FOGE
PARA O NEBULOSO SEM FUNDO
NUM GOLPE FOTOGRÁFICO REFRAÇÃO FRACTAL FRATURA A LUZ

EIS O HOMEM NO HOJE – ONTEM
AQUI HABITAVA ENTRE NUVENS FIRMAMENTOS
NAS PRAIAS PAIRAVAM VENTOS ONDAS
FLORESTAS FLORESCIAM
SEM PODAS

VULCÕES FORJAVAM PISOS
NUM MUNDO SOLAR
LABAREDAS HOSTIS
CONVIVIAM, EIS O HOMEM NO HOJE-ONTEM-FUTURO
PAIRAVA ENTRE SONS SURDOS
TROPEÇAVAM ENTRE SI
SENSAÇÕES – RUÍDOS
SENSAÇÕES –ENTULHOS
SENSAÇÕES TEMEROSAS
SENSAÇÕES AMOROSAS
EIS O HOMEM NO HOJE-ONTEM-FUTURO

ESCALOU MONTANHAS
PELOS CORTES LONGITUDINAIS
PÁGINAS
PÁGINAS
PÁGINAS

CAMADAS
CAMADAS
CAMADAS

TECEDURA INAUDITA
QUE CONTA HISTÓRIA ANCESTRAL

PELO CARBONO PASSEAMOS
PELO CARBONO TRANSITAMOS
TEMPOS
RELÓGIOS
CARBONO
TEMPOS
VESTÍGIOS
INSTANTES
VOLTAS
REVOLTAS
REVIRAVOLTAS
TEMPOS INTERIORES
(NO ANDAR INTERIOR MORAM VIZINHOS DESCONHECIDOS)

TEMPOS
DO CARBONO NASCEMOS
INSTANTES TEMPOS INTEMPESTIVOS
REMOTAS MARGENS INVENTAM TEMPOS
DOBRAS DESDOBRAS
DESDOBRAMENTOS
O RETRATO
O RETRATADO
O RETRATO PENSA QUE RETÉM O TEMPO
RETRATO – SOMOS NÓS QUANDO ÉRAMOS OUTROS

PULSOS
PULSARES
PULSÕES SOMOS – SENDO

 

AO DOBRARMOS RETRATOS
DESDOBRAMOS TEMPOS
NAS DOBRAS DOS ÁLBUNS DE CORPOS RETRATOS
SOMOS CORPOS DE LINGUAGEM
NAVEGANDO DE PORTO EM PORTO
DE MAR EM MAR
PORTO – PORTA – PARTO

DO CARBONO VIEMOS
DO HEXÁGONO CARBONO
NASCE A VIDA
ESTRANHA MOLÉCULA GEOMÉTRICA
GRAFITE – MATÉRIA DURA
DIAMANTE – MATÉRIA DURA
BRILHANTE ECO
DO HEXÁGONO CARBONO NASCE A VIDA
PELA ESCRITA GRAFITE
RASTROS
COLMÉIA
CASAS
ABELHAS
DOCE MEL BROTA
CARBONO
GRAFENO
FINAS CAMADAS HEXAGONAIS
FORÇA – FINURA

 

DO HEXÁGONO CARBONO
NASCE O ECO DA VIDA
ONDAS RESSOAM DO ORIENTE AO OCIDENTE

CARBONO LÁPIS HEXÁGONO
CARBONO BRILHANTE HEXÁGONO
CARBONO GRAFENO HEXÁGONO
CARBONO VIDA HEXÁGONO
CARBONO FLORESTAS

DOS ECOS DE CARBONO VIDAS ECOAM
DAS DANÇAS DE HEXÁGONOS VIDAS VICEJAM
RITMOS INCESSANTES
DOBRAS DESDOBRAS
DESDOBRAMENTOS

 

VERDE VIDA VERTE
VER DE NOVO
VERDE QUE JAMAIS VI
VÍRUS VINDOURO
MUNDO
DOBRAS DESDOBRAS DESDOBRAMENTOS

O CARBONO PULSA
RESPIRA
MEMBRANAS
FRONTEIRAS MITOCÔNDRIAS – RESPIRAÇÃO
FRONTEIRAS NÃO SÃO FRONTEIRAS
MEMBRANAS – PASSAGEM – DOBRAS
DESDOBRAS – DOBRAS
DESDOBRAMENTOS

DANÇAS DE CARBONOS
GERAÇÕES
GERAÇÕES
VIDAS VICEJAM
VICEJAM TEMPOS
ESPAÇOS – DIMENSÕES

 

VIDA E MORTE
VIDA MOVIMENTO
MOVIMENTO CONTÍNUO SEM TRÉGUA

A VIDA UMA INTENSIDADE
SEMPRE CONTÍNUA RÍTMICA MOVIMENTAÇÃO
NATUREZA PROFUNDA
CONDIÇÃO HUMANA
UNIÃO DOS GAMETAS
COM TODOS OS SEUS DESDOBRAMENTOS

PONTO NODAL AVENTURA HUMANA
PRIMAVERAS
MARCAS PROFUNDAS

MOMENTO PARADOXAL
MARCAS IDEIAS FIXIDEZ
MARCAS PERENE MOVIMENTO
HERANÇAS ANCESTRAIS

ESTRANHA CAPTURA DA LINGUAGEM FUNDA TEMPOS
O ZIGOTO TRAZ O NOVO
A ANCESTRALIDADE
ADENINA CITOSINA GUANINA TIMINA
MOLÉCULAS DE TEMPOS IMEMORIAIS
ABECEDÁRIOS
SÍLABAS
PALAVRAS
PARÁGRAFOS
PAGINAS
LIVROS
VÍRUS VERSOS
MILHÕES DE ANOS
BILHÕES DE ANOS
HUMANIDADE
VÍRUS

TUDO VIRA CONVERSA
TUDO VERSA

 

AZUL SONORO NUM MUSEU
CONCERTOS OBSCUROS
VISÃO ALHURES

NUM MUSEU A OUVIR CONCERTOS
FRAGMENTOS – DOBRAS – MEMÓRIAS – MOMENTOS
NA FLUTUAÇÃO DA EXISTÊNCIA – A FRUIÇÃO DA VIDA

SENSAÇÕES VASCULHAM ONDAS INAUDÍVEIS
NAS PROFUNDEZAS ANCESTRAIS

A DURAÇÃO E O SILÊNCIO INFINITO ENTRE NOTAS MUSICIAS
SOMOS FORMAS SEM CONTORNOS FIGURAS
SERES PASSAGEIROS NO DOBRAR DAS ESQUINAS

A NITIDEZ NADA NO ETERNO FLUXO
A FLORESTA INVADE A VIDA DA CIDADE

SOMBRA NÃO ASSOMBRA A NITIDEZ
DA FORÇA DA IMAGEM NOS OLHOS DE QUEM VÊ
FENDAS FURAM INFINITOS
JANELAS ABREM INTERIORES
VERSOS VÍRUS RETRATOS
FOCO
SOMBRAS NÃO SILENCIAM SONHOS
EM FRÁGIL FLUTUAÇÃO
A VIDA VICEJA

AMAR – VOAR DO BRUTO SÓLIDO AO ETERNO ETÉREO
O PANORAMA ATA A PAISAGEM INTERIOR
VÍRUS FURAM FRONTEIRAS
NOS PILARES DO UNIVERSO
CIDADES SE ESPELHAM NAS MIRADAS
CAMADAS INFINITAS DE INSTANTES
INFINITO NAS DOBRADIÇAS DO INSTANTE
O ESCURO PULSA ANTE O ABISMO
ABERTURA EXTÁTICA

NEBLINA
NEBLINA NÃO NUBLA HORIZONTE
MEMÓRIA SOMBRIA NÃO ASSOMBRA
A NITIDEZ DOS RAIOS DO SOL
VÍRUS VIAJAM ALHURES

FLAGRAR DOBRAS NO TEMPO
FLUIR POR FLUTUAÇÕES
DOBRAS REFRATAM DIMENSÕES
GEOMÉTRICAS
TECEM OLHARES
OLHOS
ESTRELAS DO CARBONO
NASCE O ECO DA VIDA

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[1] Psiquiatra e psicanalista. Membro do Departamento de Psicanálise. Professor do Curso de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae – São Paulo.