Instituto Sedes Sapientiae

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Para assistir a Entretantos Convida 2: Democratizar a psicanálise no Brasil com Abrão Slavutzky e Rafael Alves Lima

por Sílvia Nogueira de Carvalho[1]

 

 

Foi quente a conversa, pá, ficamos contentes. Seu registro se encontra disponível em nosso canal no YouTube, mas vale dizer que assistir ao modo online é insubstituível – pois uma das graças de nosso ciclo de mesas Entretantos Convida justamente se encontra na palavra escrita aberta ao público no chat, recolhida pelos olhos atentos de Paula Francisquetti.

Começamos Entretantos Convida 2 com a abertura feita por Fatima Vicente em nome do Conselho de Direção e seguimos com a proposição da pauta de trabalho daquela noite de 31 de março de 2023 na voz de Sílvia Nogueira de Carvalho, incluídas as apresentações dos dois convidados:

Abrão Slavutzky, psicanalista radicado em Porto Alegre, fez psiquiatria e psicanálise em Buenos Aires, onde viveu por 7 anos e trabalhou na década de 1970. Versado em viagens tanto pela história da cultura quanto pela clínica cotidiana, é autor de artigos, crônicas e livros conhecidos de muitos de nós, incluídos seu entusiasmante Humor é coisa séria, que foi objeto de uma roda aberta para conversa com ele no Departamento de Psicanálise em setembro de 2014, e seu recente Imaginar o amanhã, em coautoria com Edson Luís André de Sousa.

Rafael Alves Lima, psicanalista, doutor em Psicologia Clínica pela USP, com a pesquisa “A Psicanálise na Ditadura Civil-Militar Brasileira (1964-1985): história, clínica e política”. Membro do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise (LATESFIP-USP), da Rede Clínica do Laboratório Jacques Lacan (IP-USP), do coletivo Margens Clínicas e co-fundador do Instituto de Pesquisa e Estudos em Psicanálise nos Espaços Públicos (IPEP). Rafael esteve no Sedes bem recentemente, no Sarau por democracia e direitos realizado pelo coletivo Fala Sedes em setembro de 2022.

Suas exposições nos permitiram identificar novas pistas da questão que nos move. Tratou-se de democratizar a psicanálise no Brasil assim como quem:

Cultiva sonhos compartilhados, oferecendo-lhes restos diurnos bem-humorados em conexão com nossas ancestralidades;

Mete-se em trabalhos que nos permitam seguir nossa autoanálise;

Pensa a utopia junto com a distopia;

Fala em liberdade, dialogando em todo o campo antiautoritário, situado à esquerda da direita civilizada;

Assume a ambição de participar do debate cultural a partir do espanto diante da condição humana aliançada com a barbárie;

Sustenta o acesso ao tratamento, ao conhecimento e também à formação psicanalítica;

Entende a história que constitui as instituições psicanalíticas a fim de elaborar uma crítica da razão psicanalítica oficial – oficial querendo dizer ofício, ao invés de profissão, assim como em alusão às ortodoxias oficiais;

Despoja-se de identidades imaginárias;

Valoriza modalidades instituintes de escuta marginal e recolhe seus efeitos no tempo;

Co-memora toda a luta havida em nosso país e em nosso continente pela afirmação de um estado democrático de direitos;

Re-memora a presença ausente de nosso companheiro, colega e amigo Mario Pablo Fuks, referência duradoura para nossas práticas clínicas, formativas e críticas.

Afinal, não foi à toa que Mario nos trouxe à tona uma história de sua chegada ao Sedes, em seu artigo de Apresentação ao livro Ditadura-civil militar no Brasil – o que a psicanálise tem a dizer:

Era o ano de 1977. Lembro que entrei neste auditório por um corredor central. À esquerda as janelas, maiores; o chão horizontal e, ao fundo, na parede, o crucifixo. À frente, à minha direita, de pé, Madre Cristina apontando para o crucifixo e dizendo: ‘Este homem era também um jovem lutador que foi torturado e morto por uma ditadura que teve, no entanto, a decência de devolver o corpo para sua mãe’. (…) Mesmo que as palavras causassem em mim um impacto afetivo muito grande, em que o susto não estava ausente, lembro daquele momento com alegria, lembro a admiração que me causaram a coragem e a lucidez de sua fala, assim como o interesse suscitado por este processo de politização que se estava produzindo nessa instituição religiosa bem peculiar”.

Vida longa ao nosso auditório de Entretantos Convida! Vida longa às pontes articuladas entre psicanálise e política, constituintes de criativas práticas institucionais, no Sedes e em nosso Departamento!

Entretelas seguimos, em junho próximo. Até lá!

 

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[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, professora no curso Clínica Psicanalítica: Conflito e Sintoma, integrante da equipe editorial deste boletim online, do coletivo Escuta Sedes e da comissão organizadora de Entretantos Convida. Articuladora da Área de Publicações e Comunicação no Conselho de Direção 2021-2023.

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