Eis um mestre
por Tales Ab’Sáber[i]
Eis um mestre. Para quem não conhece a história contemporânea do movimento psicanalítico em São Paulo, esse é Mario Fuks. Psicanalista refinado e comprometido, socialista, pensador da psicanálise contemporânea, Mario veio ao Brasil escapando da ditadura militar genocida da Argentina de 1976 a 1983. Com seus companheiros psicanalistas de esquerda argentinos, formados na tradição de Pichon-Rivière, José Bleger e Marie Langer, os seus grandes parceiros de geração, todos socialistas, todos fugidos dos assassinos de botas e farda, Lucía Fuks, Silvia Alonso, Ana Sigal, Maria Cristina Ocariz, encontraram os psicanalistas críticos do Brasil dos anos 1980, Regina Schnaiderman, Isaías Melsohn, Fábio Herrmann, e, juntos, constituíram o núcleo primeiro de discussões e estudos do que viria a se tornar o Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. Um departamento que tem plena consciência da radicalidade produtiva da obra freudiana, da história profícua da psicanálise no seu século e do acompanhamento político da cultura e inquirição do Brasil e do mundo contemporâneo. Muito deste espírito e deste espaço da psicanálise entre nós se deveu ao trabalho civilizatório, crítico e incansável de Mario Fuks. O mesmo trabalho por todos que ele também dedicou ao movimento da luta antimanicomial brasileira. Ele, e os queridos irmãos psicanalistas argentinos, exilados do mal do mundo, que souberam bem se tornar brasileiros como todos nós, cidadãos da terra sem fronteiras, sonhando sempre um mundo de igualdade e liberdade possível para o qual a psicanálise deveria contribuir desde sua própria experiência do humano. Entre a inteligência sem esforço e o riso vivo e fino Mario sempre nos surpreendeu com um aspecto das coisas que não saberíamos, se ele não nos falasse delas. Estar perto dele era uma espécie de alegria criadora, que tornava as coisas inteligentes leves, e as coisas sérias pensáveis. Fica o nosso agradecimento respeitoso a esse psicanalista especial, que deixou tantos frutos e amigos, todos impressionados por sua imensa qualidade teórica e humana. E sua graça única. Evoé Mario! Não esqueceremos!
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[i] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise e professor no Curso de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.