Instituto Sedes Sapientiae

boletim online

jornal de membros, alunos, ex-alunos e amigos de psicanálise

Do significante RAMPA[1]

por Maria Cristina Petry[2]

 

Ram-pa

Ram-papa

Ram-pa

Ram…

 

Ram que soa como a rã saltitante do brejo escuro rumo ao lago azul

Caminho resplandecente

Acesso possível para um novo instaurar

Reparação, inovação

Voltamos a sonhar!

 

Ram-pa

Ram-papa

Pa de pai, de lei, de força,

Do instituído ao reverenciado,

Diversificado, transformado.

Pa de palavra

Linguagem sonora,

Corrente, fluente, alegre, contente.

 

Ram-pa

Ram-papá

Papá de comer, alimentar, nutrir, satisfazer.

 

Ram-pa

Ram-papa

Ram-pa

Ram-papa

Rampa reverberante

Do som das botas outrora a marchar

No chão duro, cinza e impermeável

Que rumava ao comando de uma voz pervertida e implacável.

 

Ram-pa

Ram-pa-pá

Pá de cal

Que higieniza e esteriliza

Os túmulos dos que se foram

Doentes, sacrificados, violentados

Na dita-dura entre concretos secretos

Dos impensantes dogmáticos, fanáticos e cruéis!

 

Rampa

Ram-pa-pá

Pá de cal

Que agora faz o doce

Que remonta à infância dos carrinhos de rolimãs, skates, patins e bicicletas,

Com crianças a deslizar e a se divertir em sacos de estopa

no piso liso e escorregadio rumo à exaltação do poder de ser feliz…

 

Rampa que desce e abomina

Os que não se desfazem do racismo, preconceito e discriminação

Arraigados em mentes e ações

Que fomentam a violência, desigualdade e exclusão.

 

É a mesma rampa que sobe

Que eleva os ideais

E que chega como ponte trazendo de mãos dadas

Para perto da realidade

As idas e vindas de tantas, tantes e tantos

Que passaram por caminhos retos e tortuosos

Falas diretas e indiretas

Metáforas deslizantes e incessantes

 

Rampa que ruma

A um novo tempo de abertura (e utópica união)

Que dá voz aos diversos, despossuídos e desfavorecidos: imensa minoria – maioria imensa.

 

Ram-pa

Ram-pa-pa

Que rufem os tambores

Dos negros, dos indígenas

Música para os que sabem escutar

Para os corpos que se deixam bailar

Fluência e confluência

Sonhos, projetos, realizações

Que sejam bons (os sonhos) que sejam boas (as realizações).

 

Rampa da esplanada

Caminho de esperança

Travessia para novos tempos – de abertura, colaboração, participação

Do cinza à cor

Da dor à confiança renomada

 

Representantes icônicos da vulnerabilidade até então silenciada

Agora visível e estampada para quem quiser ver e escutar

Famílias brasileiras diversas em destaque

Cada uma de suas conjugações existe e é importante para nós:

Coloridas, singulares, plurais, multifacetadas,

Formas criativas de constituição,

Admiráveis subjetividades – de existir, de resistir e de insistir, ontem, hoje e sempre!

 

SP, 05/8/2023

 

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[1] Texto poético para apresentação no evento Famílias Brasileiras subindo a rampa: Cada uma delas existe e é importante para nós.  

[2] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.

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