Dia FLAPPSIP 2024 no Departamento de Psicanálise
Abertura do Evento Dia FLAPPSIP[1]
por Danielle Breyton[2]
Boa noite a todos! É com muita satisfação que abro esse Evento Dia FLAPPSIP aonde serão apresentados, aqui entre nós, trabalhos do Departamento (de membros, aspirantes e alunos) que foram levados para o XII Congresso FLAPPSIP: Psicanálise Bordas e Transbordamentos, transformações em tempos de desmesura – que ocorreu em outubro de 2023 em Santiago, Chile.
Na organização desse Evento priorizamos o encontro presencial tão caro aos nossos psiquismos encarnados e vivido de forma muito especial e prazerosa por aqueles que puderam estar no Chile, na ocasião desse último congresso. Reeditar essa atmosfera de contato foi um norteador para nós como parte daquilo que gostaríamos de apresentar aqui.
Lamentamos profundamente as ausências que decorrem dessa escolha pelo exclusivamente presencial, tanto entre os autores e seus trabalhos, quanto no público, uma vez que as vagas foram poucas frente à procura por inscrição.
Não apresentarão seus trabalhos:
– Débora Albiero,
– Moisés Rodrigues da Silva Jr.,
-Agda Sardenberg Jardini e Bianca Giusti Duvernoy,
-Julia Mancilha Carvalho Perdigone,
-Cassandra Pereira França,
– Leilyane Oliveira de Araujo Masson,
que, de alguma forma, estiveram no Congresso e aqui farão falta.
Priorizamos também termos tempo e calma, tão fundamentais à reflexão e ao pensamento crítico. Nesta noite poderemos escutar e conversar sobre o trabalho de Renato Mezan, que no congresso foi apresentado em uma mesa plenária. Amanhã cada mesa será composta por 2 trabalhos também visando termos calma nas apresentações e tempo para pensar e conversar, ainda que isso também implique em não podermos ver tudo!
Amanhã iniciaremos com uma apresentação da FLAPPSIP. Silvia Alonso, que hoje é membro da Diretoria da FLAPPSIP, vai nos contar um pouco da história da nossa participação na Federação, do trabalho em sua posição atual de Secretária Científica e dos desafios presentes e futuros dessa empreitada. Helena Albuquerque, atual Delegada, vai nos falar do cotidiano das atividades e da sustentação da tarefa de interpenetração/permeabilização FLAPPSIP- Depto. E Mara Selaibe, representante junto a Revista Intercambio Psicoanalítico, vai nos falar sobre a revista, sua missão e os rumos desse trabalho dados pelo novo editor e pelo conjunto de colaboradores representantes das instituições. Convidamos cada um de vocês a participar desse momento, pois quanto mais conhecidos o trabalho e os campos de abertura que a Federação nos oferece, mais podemos aproveitar, participar e também contribuir nessa permanente construção e seus necessários ajustes. Essa é uma tarefa difícil e contribuições, sugestões, propostas são super bem-vindas.
Depois disso teremos 2 rodadas de mesas, com uma pausa para um café entre elas.
Como tivemos uma grande procura por inscrições, em cada um dos horários uma das mesas foi deslocada para o auditório, no intuito de abrir novas vagas. A Mesa 1 foi uma das que teve muita procura, o que nos deixou muito satisfeitas visto que se trata de uma mesa composta pelo trabalho ganhador do 3º lugar no Concurso Jorge Rosa, de autoria de Fernanda Almeida, que ainda não foi publicamente apresentado no contexto FLAPPSIP, e pelo trabalho de Antonio Neves; são ambos sobre a temática do racismo, temática que urge e vem ganhando muito espaço no Departamento. Também são ambas produções de alunos da formação no Departamento, o que consideramos um sinal da tonificação e do enfrentamento que as novas gerações imprimem, para os quais também a FLAPPSIP vai se mostrando um importante campo de abertura. Essa mesa será coordenada por Elcio Gonçalves de Oliveira Filho, que foi membro do Juri do concurso. Aproveitamos a ocasião para agradecer-lhe pelo trabalho.
Gostaria de agradecer o apoio do Conselho de Direção (gestão 24-25) que, mesmo desfalcado do articulador de Eventos, permitiu e facilitou que o Dia FLAPPSIP pudesse se realizar logo no início do ano e da gestão. Agradecer especialmente a Claudia Dametta pela sempre gentil, eficiente e entusiasmada colaboração, além da valiosa experiência, e agradecer também a todos os funcionários de Instituto que nos auxiliam nesse Evento.
Como organizadoras testemunhamos a dificuldade de organizar um evento sem a presença dessa peça chave do Conselho de Direção que é o articulador da área de Eventos. Como todos nós que estamos aqui sabemos da importância desses espaços extraordinários para a saúde e vitalidade do nosso Departamento, gostaríamos de aproveitar essa oportunidade e essa possibilidade de encontro para sensibilizar nossos membros na busca de uma solução para esse problema.
Desejo a todos uma boa jornada de trabalho e passo a palavra para Maria Beatriz Vannuchi que vai coordenar essa mesa.
Obrigada!
Apresentação do Dia FLAPPSIP[3]
por Silvia Leonor Alonso[4]
Bom dia a todas e todos. Queremos hoje apresentar a FLAPPSIP para aqueles que não a conhecem e trazer notícias do presente para aqueles que acompanham a história.
O que é FLAPPSIP?
Federação Latino-americana de Associações de Psicoterapia Psicanalítica e Psicanálise.
Em 1998, em Montevideo, Uruguay, associações de cinco países de Latinoamérica: Argentina, Uruguay, Chile, Brasil e Peru, fundaram a federação, sendo seus objetivos, colocados desde a fundação, os seguintes:
- Intercambiar reflexões sobre teoria e clínica psicanalí
- Aprofundar o pensamento no nexo da psicanálise com o social, pondo o sujeito em relação ao sintoma e o sintoma em relação ao mal-estar na cultura.
- Responder ao desafio que a psicanálise tem de se repensar e de encontrar formas de intervir nos novos sofrimentos, sendo que o último século introduziu transformações sociais e culturais significativas e aceleradas, com produção de novas subjetividades e novos sofrimentos.
- Neste pedaço do planeta que ocupa América Latina, a ordem social regulada pelo mercado gera intensas desigualdades e exclusão social, com consequências significativas na construção das subjetividades e riscos graves da elitização da clínica e do fechamento da teoria.*
Os princípios subjacentes a esses objetivos se mantêm como eixos fundamentais que organizam o intercâmbio científico entre as associações, nestes 26 anos de existência da Federação.
Tal intercâmbio valoriza pensar a psicanálise no contemporâneo, desafiada pelo entorno social e cultural de sua época, mas assentada num espaço geográfico que, por sua história e seu presente, introduz marcas de especificidades. Existem, entre os países federados, diferenças mas também muitas semelhanças. As temáticas postas em discussão nos Congressos Bianuais mostram isto com clareza.
Quando nosso Departamento se incluiu nesta história?
Foi em 2017, após um importante trabalho dentro da própria instituição Sedes, e de muitas conversas com a Federação, que o Departamento de Psicanálise concretizou sua pertinência à Federação. De lá até agora tem sido intenso o trabalho em dupla via, de inserção do Sedes na FLAPPSIP e de penetração da FLAPPSIP na vida de nosso Departamento.
Quais são os dispositivos nos quais as trocas científicas acontecem?
a) A cada dois anos um Congresso se realiza no lugar / sede desse momento. Desde nossa entrada participamos com presença significativa, apresentando nosso pensamento e nossas produções nos seguintes Congressos:
– 2017, em Porto Alegre, com o tema Um mundo em transformação. Teoria, clinica e cultura.
– 2019, em Montevideo, com o tema: Figuras atuais da violência.
– 2022, Argentina, sem cidade, desta vez online por causa da pandemia, com o tema: Revisitando a sexualidade hoje.
– 2023, Santiago, Psicanálise, bordas e transbordamentos. Transformação em tempos de desmesura.
Foi nesse último que foram apresentados os trabalhos reapresentados na mesa de ontem e nas de hoje.
Quero ressaltar que os analistas em formação, ou seja, alunos dos cursos são filiados da Federação e participam com trabalhos nos Congressos, mas há um dispositivo específico e interessante, que é o Concurso Jorge Rosa. O Concurso acontece em todos os Congressos e nossos alunos têm participado, obtendo importante reconhecimento. No Congresso de Montevideo, o trabalho de Flávia Gleich teve menção honrosa. No de Argentina, Isadora Barretto ganhou o primeiro lugar com o texto: “A feminilidade como resistência em A pele que habito” e no de Chile, Fernanda Almeida obteve o terceiro lugar com seu trabalho: A cor da pele do corpo que (Eu) hábito[5], que daqui a pouco estará sendo apresentado na mesa aqui no auditório.
b) O segundo momento de intercâmbio entre as associações se dá no Simpósio clínico, também bianual. Neste ano de 2024 realizaremos o Simpósio nos dias 13 e 14 de setembro; será virtual, com apresentação de um trabalho por Associação e debate coletivo, sendo o tema: “Sonhar um futuro é possível?. A clínica do desamparo nos tempos atuais”. Momento de reflexão sobre como as fortes e diárias ameaças de nossos tempos, ao planeta, à espécie, à vida, ao trabalho e outras mais, afetam as subjetividades e a clínica, os efeitos na transferência e os desafios ao trabalho do analista.
c) O terceiro dispositivo de trocas, este mais permanente é o espaço de investigação. Escolhem-se temas de investigação, propostos pelas associações, que são realizadas conjuntamente por membros de diferentes Associações com o propósito de fazer uma pesquisa conjunta. Atualmente três projetos estão sendo realizados:
1- Comunidade e assexualidade investiga as comunidades virtuais de assexuais.
2- Indicadores de mudança subjetiva no processo de elaboração psíquica de casos clínicos com transtornos psicossomáticos numa perspectiva psicanalítica.
3- Uma leitura psicanalítica atual sobre migrações de púberes e adolescentes na Argentina através de obras literárias de Maria Tereza Andrueto.
O produto escrito das mesmas é apresentado no Congresso e publicado na Revista da Federação.
d) O quarto dispositivo de intercâmbios é justamente a Revista Intercâmbio psicanalítico, sobre a qual Mara falará em breve.
e) Mesas FLAPPSIP. Em diferentes momentos do ano, as associações organizam mesas redondas, às vezes no pré-congresso, como preparação para o mesmo, ou independentemente dele. Convidam membros das outras instituições para participar. O Departamento já participou de uma mesa FLAPPSIP no Rio, uma em Porto Alegre, duas na Argentina e duas no Peru. E realizamos uma Mesa do Departamento no ano passado.
Por que escolhemos esta Federação para pertencer? Primeiro por nos identificarmos com a forma em que a psicanálise é pensada, conforme exposto em minha apresentação de seus objetivos, aqui estão as semelhanças. Mas, ao mesmo tempo, porque não há exigências para as associações, nem de seguir uma linha teórica, nem de ter uma correspondência na forma de organização institucional, nem nos critérios formativos, nisto as diferenças e a liberdade institucional são totalmente respeitadas.
Em relação à gestão da Federação, como podem imaginar não é simples. Ela é feita com um rodiziamento da sede de dois em dois anos. Depois do Congresso do Chile, a sede passou para Peru, seu lugar atual. Ou seja, existe um processo de transição a cada dois anos, muito trabalhoso, porque tudo passa para outro país e os países têm funcionamentos diferentes e leis distintas, mas no meu parecer muito interessante. A cada Congresso se escolhe uma nova diretoria formada da seguinte maneira: Três cargos são ocupados pelo lugar sede, neste caso Peru. São eles: Presidente, Secretário e Tesoureiro. O Vogal é do país sede anterior, neste caso Chile, e a Secretaria científica do país sede seguinte, neste caso Brasil. Ou seja, em 2025 a sede passará para o Brasil. Sou neste momento Secretária Científica da Diretoria 2023/2025, escolhida na Assembleia de delegados no mês de outubro passado. Temos portanto neste momento um intenso trabalho, pela gestão atual: temos que preparar o Congresso de 2025 que será presencial no Peru e prepararmo-nos para a próxima gestão que será em Brasil. Por isso, esperamos que muitos de vocês estejam dispostos a colaborar. Serão todos benvindos.
Quero terminar dizendo que é muito interessante, nessas trocas, como as histórias de cada país vão aparecendo, mostrando as semelhanças entre eles: a história colonial e seus movimentos de independência; a organização social racista, em alguns com ênfase na raça negra, em outros dos povos originários, mas que construíram funcionamentos sociais e desigualdades muito semelhantes; o tipo de violências, entre elas as de gênero, com números assustadores de feminicídios; as ditaduras militares e os processos de terrorismo de Estado; as polarizações políticas e os governos de extrema direita nos últimos tempos.
No belo texto escrito por Soraia Bento no Boletim online depois do Congresso de Chile – “A arte inspira o bordejamento e a desmesura: o pensamento acompanha”[6] -, para falar do Congresso, Soraia vai construindo uma borda que transita pela arte, de Vitor Jara que em 1971 lança O direito de viver em paz, Arthur Endo que em 2023 canta a canção num concerto impecável, o show de Roger Waters em São Paulo, a exposição no Centro Gabriela Mistral, o Museu da memória e dos direitos humanos… Por que começar assim? – pergunta Soraia -, e responde: “Porque pensei que o mais importante, na minha forma de vivenciar o evento, foi reconhecer uma lente voltada para o passado enquanto outra voltava-se para o futuro, 2023 é o ano que marca os 50 anos do golpe militar no Chile. A contemporaneidade exige mudanças nos velhos paradigmas, nos costumes, na maneira de ler a subjetividade atravessada pelo mais radical da virtualidade”. A seguir, referindo-se ao Congresso, afirma: “Como não poderia deixar de ser, o evento atravessou temas como violência de Estado, violência midiática, racismo, questões de gênero, clínica com crianças e adolescentes”.
*Objetivos extraídos da página Web da FLAPPSIP.
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[1] O vídeo da mesa em que este texto foi apresentado se encontra no canal do Departamento de Psicanálise no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=Qdw7BfeqkoU&t=6s
[2] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, integrante do grupo de apoio FLAPPSIP.
[3] O vídeo da mesa em que este texto foi apresentado se encontra no canal do Departamento de Psicanálise no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=mag0_1tOFbM
[4] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, diretora científica da FLAPPSIP.
[5] Publicado na edição 69 do Boletim online, novembro 2023. Disponível em https://sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/boletimonline/2023/11/17/a-cor-da-pele-do-corpo-que-eu-habito/
[6] Publicado na edição 69 do Boletim online, novembro 2023. Disponível em https://sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/boletimonline/2023/11/17/a-arte-inspira-o-bordejamento-e-a-desmesura-o-pensamento-acompanha/