Instituto Sedes Sapientiae

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A invasão

Rubia Delorenzo[1]

 

É noite.
A pancada do fuzil derruba a porta.
Lá fora, vozes se alteram no tom.
Tropas cercam civis.
Lá dentro, o som das botas batendo no chão.
A língua estrangeira ordena.
Canhão que acerta na mira.
A velha cansada desperta.
É sacudida.
Trêmula, estreita o menino em seu corpo.

Dormiam.
Quem sabe, sonhavam.
Minutos antes de tudo mudar.

Na plataforma crianças se agarram às vestes
pesadas das mães.
Homens interrogam soldados.
Recuam frente ao hálito podre que exalam.

O vapor do tempo e do trem embaça o futuro.
Olhares atônitos se cruzam.
Na angústia se perdem.
À deriva suplicam.

A avó não verá mais seu menino.
Logo terão suas mãos desatadas.
Lágrimas deixarão de correr.
Dor infinita. Arrancamento.
A lava rubra do vulcão cobrirá seu último gesto.
A criança, o que será dela?
Hurbinek. Morto aos 3 anos.
Sem nome. Sem palavra.

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[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, colaboradora deste boletim online.

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