terça-feira, 07 de novembro de 2017 - 12h20

“A clínica do testemunho psicossomático: Corpo, Afeto e linguagem Encontro Teórico Clínico – Especialização em Psicossomática Psicanalítica”
07 nov 2017

“A clínica do testemunho psicossomático: Corpo, Afeto e linguagem Encontro Teórico Clínico – Especialização em Psicossomática Psicanalítica”

“A clínica do testemunho psicossomático: corpo, afeto, palavra”, por Daniel Kupermann

No último encontro Teórico Clínico tivemos o prazer de receber Daniel Kupermann, psicanalista e autor de diversos livros, que apresentou a palestra “A clínica do testemunho psicossomático: corpo, afeto, palavra”.

Com leveza e humor, Kupermann propôs uma reflexão sobre o impacto traumático do adoecimento na subjetividade e o lugar privilegiado do testemunho nos processos de elaboração. Discorreu sobre a experiência do irrepresentável quando se é atingido pela doença e se rompem os fios que unem corpo e pensamento, sofrimento e nome, sensações e sentido. Para isso, recorreu a ilustrações da literatura: o testemunho de Primo Levi em seu livro de memórias sobre a existência massacrada dos judeus deportados; a novela Cisne Negro, de Thomas Mann, na qual é narrada uma experiência de adoecimento a interromper tragicamente um sonho, ou uma utopia; entre outras referências. E retomou também algumas noções que tem sido centrais em seus escritos sobre a clínica do trauma e a vertente que intitula “ética do cuidado”. Inspiradas em alguns conceitos da clínica de Freud, Ferenczi e Winnicott, são elas: as figuras da empatia e da hospitalidade, que se forjam na clínica a partir do acolhimento que faz eco à dor, bem como o problema da saúde psíquica de quem se propõe a escutar a experiência do traumático.

Para Kupermann, o profissional do cuidado – esse outro receptivo à experiência traumática pela via do testemunho – deverá ser capaz de “escutar o inaudível e falar uma língua que não existe”. Tarefa impossível? Sim, para a racionalidade cartesiana; mas para a lógica do sensível, não. Isso porque trabalha-se buscando alcançar, na reprodução da experiência, o afeto que irrompe com a dor do trauma antes mesmo que dele se faça um nome, obedecendo a sequência em que, primeiro a experiência traumática é liberada no corpo, para só depois encontrar equivalentes na linguagem através dos métodos de pensamento. Portanto, afirma nosso convidado, a escuta que reconhece a experiência de dor refaz a ligação rompida entre comoção e palavra, restituindo assim sua potência significante e implicação subjetiva. Retira, além disso, o sujeito do estado de abandono, para onde é jogado no trauma, lançando-o à comunidade de semelhantes que compartilham línguas e padecimentos.

Com o auditório quase lotado por um público de psicoterapeutas, psicanalistas, médicos e outros profissionais da saúde, a palestra de Daniel Kupermann primou pelo conteúdo consistente, elegante e inspirador. Deixará boas lembranças!


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