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segunda-feira, 23 de novembro de 2020 - 15h34

O RACISMO É PROBLEMA DE TODOS NÓS
Em 19/11/2020, enquanto discutíamos na segurança de nossas casas-gabinetes-consultórios a implantação de Cotas raciais no Instituto Sedes Sapientiae, mais um corpo negro é brutalmente abatido.
A política genocida deste país empreende cotidianamente o extermínio da população negra, protagonizando episódios de extrema violência. A cena do assassinato veiculada repetidamente sustenta um gozo perverso daqueles que filmam, pensam e dizem “alguma ele deve ter aprontado”, pois corpos negros são sempre suspeitos e devem ser eliminados e não incluídos.
O Sr. João Batista Rodrigues Freitas, pai de João Alberto Silveira Freitas, que provavelmente nunca ouviu falar em necropolítica desabafa: “achei que ia buscar meu filho na delegacia e recebi um corpo do IML”.
Amanhecemos no 20 de novembro com um recado: Escutem, negros! Não é dia de comemorar, é dia para velar mais um dos seus! Chorem!
Alguns já se apressam em levantar a “ficha” do morto, como uma forma de uma vez mais desqualificá-lo, justificar o ato.
Mais um número na estatística, mais notas de repúdio e sigamos, pois se a cada 23 minutos um negro é assassinado, quantos mais já morrem do dia 19/11/2020 até agora?
Tal realidade inconcebível não pode mais se manter. Precisamos dar um basta! Um basta na ideia de que no Brasil não existe racismo, ideia perversa e que sustenta a recusa da terrível herança nos deixada por mais de 300 anos de escravidão.
Nós, componentes do Grupo de Trabalho “A Cor do Mal Estar”, o GTACME, gostaríamos de fazer muito mais do que escrever esse manifesto, mas no momento é o que temos de possibilidade imediata para deixar registrada a nossa profunda indignação com a ausência de humanidade e o descumprimento da prática óbvia de cidadania que qualquer país necessita para merecer ser considerado uma nação.
Recriminamos e condenamos não só a barbárie de um assassinato, mas principalmente a concordância do Estado com essa barbárie. Ao negar o racismo, e consequentemente negar ter havido um crime racista, o Estado se autoriza o exercício de um governo arbitrário, desabilita a lei máxima do país, atingindo dessa forma toda a população. Frisamos: TODA A POPULAÇÃO!!
O RACISMO NÃO É UM PROBLEMA DA POPULAÇÃO NEGRA!!
Neste sentido, mais uma vez convocamos a população branca à reflexão sobre o enorme prejuízo que ela vem sofrendo ao ser conivente com a manutenção de todos esses anos de mentalidade escravocrata.
Que entendamos de uma vez por todas, que a única chance de construirmos uma nação onde todos se vivenciem cidadãos de fato, é assumindo uma postura antirracista com engajamento em ações diárias de combate e desconstrução do racismo estrutural.
Escutem os negros:
Poema do Erivelton Amaro(1)
Sou feito de luta
Forjado no fogo
Eu sou resistência
Não jogo seu jogo
Livre das correntes
Livre das chibatas
E chegou a hora de damos as cartas
Eu sei que isto te assusta não é?
Minha força
Meus ancestrais
Meu pé no chão
A minha fé
Pra você entender
Pra onde vou
De onde vim
Lembre do Dr. Luther King
“I have a dream”
Meus Heróis são todos assim
Meus heróis vêm das ruas
Meus heróis vêm das favelas
Meus heróis são Zumbi, Malcolm X, Mandela e Luísa Mahin
Grupo A Cor do Mal-Estar, do Departamento de Psicanálise
do Instituto Sedes Sapientae
(1) Membro do Grupo A Cor do Mal-Estar
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